Quando estava grávida, Satya Twena, 36 anos, estilista de moda e designer de chapéus em Ojai, na Califórnia, Estados Unidos, meditava em uma aula de ioga quando o nome da filha lhe veio à mente: Wish.
— Wish escolheu o próprio nome porque já estava ativa e viva na minha esposa — disse Jeffrey Zurofsky, 45 anos, que fundou a casa de lanches Wichcraft com o renomado chef Tom Colicchio antes de se mudar para a Califórnia e trabalhar como conselheiro e consultor.
No entanto, Twena e Zurofsky ficaram consternados quando o segundo filho do casal não escolhia como queria ser chamado... inicialmente. Logo, ficou sem nome após ter vindo ao mundo, em casa, em janeiro. Mas Zurofsky contou que não demorou para o recém-nascido dar alguns sinais.
O pequeno abria os olhos sempre que o pai colocava sálvia ("sage", em inglês) perto das narinas dele; a família se lembrou de que a música durante o parto falava sobre sabedoria e anciões (em inglês, o termo "sage" também é usado para definir alguém muito sábio); e uma pessoa que os visitou após o nascimento tinha um filho de 28 anos chamado Sage. Portanto, o nome Sage se firmou.
— Se eu pudesse, deixaria que vivessem toda a vida até escolherem os próprios nomes, mas acredito piamente que os nomes vieram deles, por isso acho que fizemos a coisa certa – justificou Zurofsky sobre Wish e Sage.
— Mas se Wish mudar de ideia e quiser se chamar Jill ou Jim, sem problemas. Se quiser mudar o nome para 8.600, está ótimo também. Eles são mais espertos e sábios do que nós quando tentamos decidir por eles.
Independência
Muitos pais começaram a seguir as dicas dos filhos em relação a gênero e identidade. Agora, alguns estão permitindo que eles escolham o próprio nome ou que mudem assim que tiverem uma preferência estabelecida.
Embora algumas crianças gostem de ter a liberdade de escolher como serão chamadas, essa pode não ser a melhor maneira de lhes oferecer independência, segundo Carole Lieberman, psiquiatra infantil de Beverly Hills, na Califórnia.
— Esses pais estão se rebelando contra a tradição apenas pela rebeldia, sem se darem conta de quanto estão prejudicando os filhos. Crianças com nome temporário ou nome nenhum podem se sentir sem identidade e poderão sofrer problemas psicológicos — acrescentou Lieberman, que, além de especialista em assuntos parentais, escreveu o livro "Lions, Tigers and Terrorists, Oh My!".
Uma opção melhor: deixar que mudem legalmente o nome quando forem mais velhos e maduros, sugeriu Lieberman.
J. Martin Griffith, 36 anos, funcionário de uma empresa de energia limpa em Filadélfia, na Pensilvânia, teve a opção de escolher o próprio nome desde o dia em que nasceu, mas ele ainda não conseguiu tomar essa grande decisão.
A mãe de Griffith o registrou como J, que oficialmente não quer dizer nada.
— Minha mãe sempre me disse que eu poderia escolher um novo nome. Eu me debrucei sobre cerca de mil, mas nunca consegui me decidir por um — explicou.
Ele tentou diversos nomes com J e outros sem J, mas nada lhe agradava. Ao longo de sua vida, algumas pessoas o chamavam de Martin, outros poucos de J ou "J-a-letra". Hoje em dia, a vasta maioria usa Marty ou Martin, já que ele ainda não se decidiu.
Griffith não é um grande apoiador da tendência de deixar com as crianças a missão de escolher o nome.
Minha mãe sempre me disse que eu poderia escolher um novo nome. Eu me debrucei sobre cerca de mil, mas nunca consegui me decidir por um.
J. MARTIN GRIFFITH
funcionário de empresa de energia
—Já é difícil nomear alguém, imagine a você mesmo. E acho que o nome carrega um peso enorme no mundo — argumentou.
Por outro lado, chegar à fase adulta com um nome que você detesta é difícil, garantiu Embe Guadagno, de 29 anos, de Downey, na Califórnia, que nasceu Zierah.
— Durante toda a vida deixei claro para minha mãe quanto odiava aquele nome que ninguém conseguia pronunciar — relatou Guadagno.
Ela se autoproclamou Embe no ensino médio e fez a mudança legal entre os 19 e 20 anos.
Hoje, ela deixa claro para a filha de três anos, Laila, que, se ela gostar de algum outro nome mais do que do próprio, poderá mudá-lo imediatamente. Por enquanto, ela está considerando o nome do meio, Jude, e Daisy.
Mudança de nome
Tiffany Towers, psicóloga clínica com clínica particular em Beverly Hills, diz entender o motivo de os pais concordarem em deixar com os filhos a escolha do próprio nome em tão tenra idade. Pode tanto ser uma tentativa de empoderar as crianças como de evitar a pressão de determinar o nome dos rebentos, opinou Towers.
Talvez os pais não queiram se sentir responsáveis caso os filhos venham a sofrer bullying por causa de um nome estranho ou fora de moda. Ou talvez eles acreditem que o futuro dessas crianças possa ser moldado por essa primeira identidade do nome (um não solicitado pela criança) e eles têm medo de que os filhos se ressintam ou fiquem oprimidos pela escolha.
Mas ela acrescentou que dar permissão para mudar ou escolher o próprio nome pode ser muito confuso para a criança.
— Isso poderia levá-las a questionar não apenas a identidade individual delas, mas também se podem confiar nos pais para tomarem outras decisões que as afetem — esclareceu Towers.
Esse processo, no entanto, não é sempre tão significativo assim.
John Duffy, psicólogo e autor do livro "The Available Parent", de Chicago, em Illinois, declarou ter percebido um aumento no número de crianças com nomes "temporários". Ele trabalha com crianças que foram autorizadas e incentivadas a trocar o nome por outro que acreditam representá-las melhor.
— Acredito que seja um artifício muito consciente dos pais para dar aos filhos o máximo de controle possível sobre a identidade deles. Alguns me disseram que se sentem presunçosos nomeando um filho, sem saber ao certo o que ele, ou ela, vai querer. Acho que é uma maneira de os pais combaterem as acusações de que, hoje, eles seriam excessivamente cuidadosos ou controladores — concluiu Duffy por e-mail.
Por Danielle Braff