Da Bonja ao pódio de campeã mundial de muay thai. O sonho foi realizado na Tailândia e, ainda nesta semana, Simoni dos Santos, 32 anos, volta para Porto Alegre com o cinturão da categoria feminina amadora (até 60kg). Junto com ela, mais 27 atletas brasileiros participaram do torneio da World Muay Thay Organization (WMO), em Bangcoc.
— Estou muito feliz! Na minha cabeça, passa tudo que eu sofri. Penso nos meus filhos, na minha mãe. Sonhei com meus dois irmãos que faleceram. A pressão estava enorme, mas Deus me honrou. Estou me sentindo maravilhosa — contou a atleta, nesta segunda-feira (18), logo após vencer a prova.
De acordo com o seu treinador, Thiago Minu, 39 anos, a brasileira lutou contra a atleta da Alemanha às 9h (pelo horário de Brasília) e venceu no segundo round:
— Ela finalizou a luta em um nocaute técnico (quando o juiz decide que não é seguro o prosseguimento da luta), com muita garra. Ela é muito forte e não desistiu em nenhum momento — conta Minu.
Chance de concorrer ao Bolsa Atleta
Simoni contou que a conquista foi difícil:
— A menina era mais alta do que eu. Não foi fácil, senti os socos. Mas deu certo, minha mão foi mais potente — celebrou.
O presidente da Confederação Brasileira de Muay Thai, Artur Mariano, que esteve com Simoni em todo o campeonato, falou sobre seu desempenho:
— A participação da Simoni foi excelente, fez a final e foi incrível. Ela está de parabéns!
Além do cinturão e do reconhecimento nacional, o treinador Minu salienta que, agora, Simoni terá a chance de concorrer a uma vaga no Bolsa Atleta, programa do governo federal que patrocina atletas brasileiros de alto rendimento em competições nacionais e internacionais.
Questionada sobre a volta para casa, Simoni fala de sua ansiedade:
— Estou com saudade dos meus filhos e do meu marido. E também da minha cama. Muito ansiosa para ver todos.
Até o pódio, vencendo dificuldades
A história da Simoni foi contada no dia 22 de fevereiro. A lutadora, sem dinheiro para pagar pela viagem, vendeu rifas para ir ao campeonato. Ao embarcar para a Tailândia, em 7 de março, estava confiante:
— Vou lá para ganhar. Vai ser difícil, eu sei, mas é a minha história, quero ser exemplo para os meus filhos — falou.
Por trás do sorriso, sua história de vida é de muitas dificuldades. Ela cresceu no bairro Bom Jesus, em Porto Alegre, onde morava com a mãe, o padrasto e nove irmãos. Com sete anos, cuidava de carros nas ruas — mesma época em que participou de um projeto social na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e fugia das aulas de balé para praticar judô. Saiu de casa ainda na adolescência para buscar independência e, aos 18 anos, veio o primeiro filho.
A reaproximação com as lutas se deu depois de quase uma década. Após conseguir bolsa em uma academia, conquistou primeiras colocações em oito campeonatos em solo gaúcho. Ao lutar na Copa RS de Muay Thai, foi classificada para participar do mundial em Bangcoc. O embarque para a Tailândia foi possível graças a uma rede de solidariedade.