Kauany Zatar, 12 anos, e Kauã Zatar, 10, mal haviam chegado da escola e já se preparavam para realizar suas atividades no turno da tarde. A correria das crianças ainda é algo novo na casa dos funcionários públicos Suiany Meotti, 38 anos, e Marcelo Zatar, 45, assim como a própria chegada dos irmãos à família. Após o casal ter passado três anos na fila de espera, a adoção foi concretizada, em definitivo, no último dia 21, quando a dupla trocou um abrigo, em Porto Alegre, por um lar. A interseção dessas quatro vidas foi possível por meio do aplicativo Adoção, desenvolvido pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) em parceria com o Ministério Público e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). É a primeira adoção realizada com o auxílio da ferramenta.
O casal ouviu falar da plataforma ao assistir a uma reportagem sobre o projeto, em 2018. Quando o lançamento do aplicativo foi feito, ambos correram para seus smartphones e realizaram o download.
— A partir daí, começamos a olhar as fotos e vídeos das crianças, até que deparei com essa dupla. Eu me encantei com eles, com o sorriso, com o olhar. Quando falaram que o sonho deles era ser feliz, desmoronei. Porque é um desejo simples, ter uma família, amar alguém e ter alguém que os ame — diz Suiany.
Eu me encantei com eles, com o sorriso, com o olhar. Quando falaram que o sonho deles era ser feliz, desmoronei. Porque é um desejo simples, ter uma família, amar alguém e ter alguém que os ame.
SUIANY MEOTTI
Funcionária pública, 38 anos
Se de um lado os pequenos sonhavam com uma família, do outro, a funcionária pública alimentava o mesmo desejo. Desde os 16 anos, ela falava aos quatro cantos que queria ter filhos adotivos. O diagnóstico do problema de obstrução das trompas — que dificulta a passagem do óvulo e a gravidez natural — fez a vontade aumentar ainda mais, e Marcelo, que já era inclinado à ideia, entusiasmou-se quando recebeu a mensagem da esposa falando que ela havia encontrado os filhos.
— Nossa intenção inicial estava voltada para crianças de até dois anos. Mas quando vimos a Kauany e o Kauã, mudamos nossas preferências e alteramos nosso perfil desejado. Quebramos algumas ideias pré-concebidas sobre adoção tardia. Independentemente da idade, eles têm muito amor dentro deles — relata Suiany.
Ela ainda nem tinha apertado o botão de interesse em adoção, e o marido já fazia planos e pensava nas reformas pelas quais a casa, no bairro Cavalhada, na zona sul de Porto Alegre, deveria passar para conseguir abrigar com conforto os filhos que estavam para chegar. Após a primeira olhada nas fotos dos irmãos, a decisão foi tomada em 24 horas. Então, passaram a ser dados os primeiros passos de aproximação entre o casal, Kauany e Kauã: foram trocadas fotos e uma cartinha, na qual Suiany e Marcelo fizeram a pergunta que os irmãos mais queriam ler: "Vocês querem nos adotar como pais?".
Foram 30 dias de "namoro" até o primeiro encontro presencial. Como a conexão foi imediata, as despedidas eram sempre doloridas, relata o funcionário público:
Estou feliz, minha vida mudou completamente. Tenho o que sonhava.
KAUÃ ZATAR
10 anos
— Parecia que a gente já se conhecia. Por isso, era muito difícil, depois de um dia todo juntos, almoçando, jantando, fazendo o dever de casa, ter de deixá-los no abrigo.
Hoje, concretizada a adoção, eles passam pela adaptação a uma nova rotina. Brincam de quebra-cabeça, deixam os filhos na escola, pedem ajuda da avó para buscá-los. Acostumam-se com a energia do menino, que pode passar a tarde inteira jogando futebol no condomínio, e procuram sanar as dificuldades que a garota apresenta na temida matemática.
Kauany tem olhar atento e é de poucas palavras, enquanto Kauã, mais inquieto, fez perguntas até sobre o funcionamento das máquinas fotográficas. Apesar da expansividade, ele resumiu, em poucas palavras — como um típico pré-adolescente —, o que tem sentido:
— Estou feliz, minha vida mudou completamente. Tenho o que sonhava.
O aplicativo
- O Adoção está disponível para os sistemas Android e iOS e mostra aos interessados fotos, vídeos e cartas das crianças que estão aptas à adoção.
- O acesso a esse material é restrito aos pais registrados no Cadastro Nacional de Adoção (CNA), independentemente do Estado em que moram.
- Eles serão identificados a partir do CPF e do e-mail cadastrado no programa.
- Depois de incluir o cadastro básico, o interessado poderá selecionar o perfil que procura. Se houver inscritos com o mesmo perfil, eles surgirão na tela.
- A indicação de interesse em adotar só será finalizada depois que os pais registrados finalizarem a busca e clicarem em "interesse em adotar". Só então, o TJ-RS entra em contato, em até 72 horas, com o interessado.