Psicólogos afirmam que os pais devem estar atentos a comportamentos de crianças e adolescentes que sugiram dificuldades de relacionamento e ao uso que fazem da internet a fim de reduzir o risco de que eles se lancem em desafios potencialmente mortais. A Polícia Civil investiga a morte de um garoto de 14 anos, nesta sexta-feira (21), possivelmente causada por uma competição de quanto tempo ele aguentaria inalar desodorante aerossol.
A idade favorece a participação em desafios arriscados, segundo especialistas, porque a transição para a fase adulta envolve a busca por aceitação e a autoafirmação. Mas, muitas vezes, o estímulo para esses jogos insalubres vem por meio da internet, o que dificulta o controle por parte das famílias.
A psicóloga Denise Scalamato Duarte recomenda que os pais monitorem o uso que os filhos fazem das redes sociais, mesmo correndo o risco de serem considerados intrometidos pelos jovens, e busquem conhecer as pessoas com quem eles se relacionam à distância ou pessoalmente.
— O discurso de respeito à privacidade é bom até que uma desgraça ocorre. Não se trata de invadir a vida dos filhos, mas é preciso saber com quem se relacionam e o que fazem — diz Denise.
Também psicóloga, Aidê Knijnik Wainberg ressalta que algumas características podem ser consideradas fatores de risco para a participação em desafios perigosos. Muitas vezes, o engajamento nesse tipo de atividade é uma forma de lidar com baixa autoestima, bullying ou isolamento social.
— A participação nesses jogos pode ser uma forma de tentar demonstrar que são capazes de vencer em algo, de se afirmar perante um determinado grupo — observa Aidê.
Por isso, também é importante os pais ficarem atentos em casos como quando a criança ou o adolescente passa tempo demais sozinho, relata abusos, tem dificuldades de aprendizagem ou apresenta um padrão de se expor mais a situações perigosas. Não há uma receita pronta para lidar com a situação, mas conversar constantemente com os filhos, questioná-los sobre eventuais dificuldades sociais ou na escola e estabelecer regras para o uso da internet são medidas de segurança.
— Existem crianças que, por personalidade e fatores ligados ao ambiente, são mais frágeis e precisam ser olhadas com mais atenção — observa Aidê.
Em caso de dúvidas ou dificuldade para lidar com os filhos, pode ser importante procurar ajuda psicológica especializada.
Após o episódio sob investigação em Alvorada, a Sociedade de Pediatria do RS recomendou que "os pais e responsáveis tenham sempre extrema atenção com o acompanhamento do que os filhos estão assistindo na internet" e que "inalação ou exposição em excesso ao produto pode provocar graves danos à saúde".
O que os pais podem fazer
Veja algumas das principais recomendações sobre como prevenir a participação em jogos e desafios perigosos propostos entre crianças e adolescentes:
- Manter diálogo frequente com os filhos e se colocar à disposição para discutir qualquer problema que eles enfrentem, sempre demonstrando serenidade
- Conversar especificamente sobre o perigo de participar de desafios que envolvam qualquer forma de risco à saúde
- Procurar saber que uso fazem da internet, com quem geralmente conversam online e sobre quais assuntos, deixando claro que é para a própria segurança deles
- Conhecer pessoalmente os amigos com quem os filhos costumam se relacionar pela internet
- Ficar atento a sinais que podem ser considerados de risco para participação em desafios que trazem risco à saúde:
- Isolamento social ou dificuldades de relacionamento
- Mau desempenho escolar
- Baixa autoestima
- Relatos de bullying
- Histórico de comportamento arriscado - Em caso de necessidade, procurar ajuda psicológica especializada
Fontes: psicólogas Denise Scalamato Duarte e Aidê Knijnik Wainberg