Repórter de ZH participou da última edição do ano do Pedal da Acergs, passeio de 15 quilômetros pelas ruas de Porto Alegre, entre a Zona Sul e o Centro Histórico, que reuniu cegos e pessoas com deficiência visual no sábado (15).
Passear à luz do sol é energizante, mas não vou lembrar de momento melhor e mais divertido do que uma atividade física com chuva. Foi a segunda vez que participei da ação da Associação de Cegos do Rio Grande do Sul (Acergs) e a primeira em que pedalei da Zona Sul até o Centro Histórico com uma bicicleta tandem. Foram 15 quilômetros cantando, brincando, conversando com o guia (pessoa com visão que direciona a bike e controla curvas e freios), apreciando as ruas arborizadas e a orla do Guaíba, que está muito bonitinha.
Para você, leitor, entender, sou considerada legalmente cega, porém, consigo ver o suficiente para apreciar lindas paisagens, as fileiras de carros e os grandes prédios, usando sempre um óculos escuro, meu companheiro diário.
Algo que desejo fazer é guiar sozinha uma bicicleta, mesmo que só por alguns metros. Mas andar de bike, ainda que em uma tandem acompanhada por um guia, é uma vitória pessoal, pois tentei diversas vezes quando menor e levei muitos tombos, ralando o joelho, machucando as pernas, os pés e todo o corpo em acidentes um pouco piores. Isso aconteceu comigo devido à falta de equilíbrio, que pode acontecer entre pessoas cegas: feche os olhos, caminhe em um lugar rotineiro e observe se sua noção de espaço será a mesma. A propósito de quedas, no sábado, presenciei um strike com três atingidos e, confesso, achei engraçado, como acharia se fosse comigo, mas ninguém se machucou com gravidade. Cair de uma bicicleta acontece com todos.
E o riso coletivo faz parte da inclusão proporcionada pelo passeio. Guias e pedaleiros têm a oportunidade de se conhecerem como seres humanos, descobrindo limitações e facilidades de cada um, tornando-se mais do que parceiros de bici, mas novos amigos.
Evento que integrou a programação do Partilhando Vivências, promovido pela Parceiros Voluntários, a pedalada de sábado foi a última do ano – uma pena, já que não sei quando poderei andar de bicicleta de novo. Não tenho uma bicicleta tandem, pelo custo altíssimo desses veículos (entre R$ 1,6 mil e R$ 2 mil), nem o Bike POA dispõe dessas bicicletas em suas estações na Capital.
Se chegou ao final deste texto e ficou curioso, convido você a ajudar o Pedal da Acergs, seja como hospedeiro das bicicletas tandem, seja fazendo doações financeiras ou de bike, seja se candidatando a ser batedor ou guia. Toda ajuda é bem-vinda. Entre em contato com o Rafael Martins, que coordena o Pedal, pelo WhastApp (51) 99916-8959, com a Acergs, pelo telefone (51) 3225-3816, de segunda a sexta, das 14h as 18h, ou comigo, pelo e-mail que aparece no canto superior esquerdo desta página, abaixo da minha assinatura.
A seguir, as imagens do repórter fotográfico Lauro Alves, acompanhadas de descrição.