Conteúdo produzido pelas vencedoras de 2018 do Primeira Pauta, programa que seleciona alunos de Jornalismo para imersão e treinamento em práticas jornalísticas na Redação de ZH. São elas (da esquerda para a direita): Vanessa Pedroso (Centro Universitário da Serra Gaúcha), Bianca Obregon (Unipampa), Bibiana Davila (UFRGS), Mariana Hallal (UFPel) e Andressa Canova Motter (UFSM).
Há mais de 20 anos, no segundo andar do Hospital Conceição, em Porto Alegre, o Grupo da Mama estende a mão a pacientes com câncer. O projeto formado por mulheres acompanha consultas, salas de espera, encaminhamento de exames e demais passos do tratamento, garantindo apoio e humanizando mais esse processo.
O trabalho voluntário dessas mulheres inspira outras pessoas, que criam seus próprios projetos ou retornam ao Grupo da Mama, agora do outro lado. Veja alguns relatos:
Experiência e aceitação
— Faz pouco tempo que estou no grupo, sabe? Só 22 anos.
Leda Macedo, 75 anos, não resiste a fazer piada. Ela ainda recorda com exatidão os dias após sua mastectomia, quando o mastologista José Luiz Pedrini foi visitá-la em seu leito no Conceição. A grande pergunta de Leda era por que, entre tantas pessoas, essa situação era imposta a ela.
O médico, então, pediu à enfermeira que levasse Leda até a próxima reunião do Grupo da Mama. A sala estava repleta de mulheres, sobreviventes de diferentes procedimentos, mas todas unidas pela vontade de mostrar que ninguém estava sozinha ali. Ela não teve dúvida sobre estar no lugar certo e, naquele momento, pensou: “Meu Deus, muito obrigada, eu sou apenas mais uma”.
— Só de ver essas mulheres, eu criei forças — conta Leda.
Força e firmeza
Ainda faltam horas para o sol nascer quando Dora Maria Dewes, 55 anos, acorda em Alto Feliz, na encosta da serra gaúcha. Depois de uma xícara de café, ela caminha até o posto de saúde municipal, onde encontra sua amiga Ivone Maria Bertotti Goetz, 66 anos. As duas seguem juntas para Porto Alegre, a mais de 90 quilômetros, para participar do Grupo da Mama, ao menos duas vezes por mês.
A iniciativa entrou na vida de Dora Maria há 12 anos, quando foi diagnosticada com câncer de mama. Depois de anos de tratamento, conseguiu a cura e decidiu ajudar outras pessoas. Em 2015, contudo, descobriu que as células cancerígenas tinham retornado. Dora Maria manteve-se firme e continuou ajudando a quem pudesse, mesmo com tratamento em curso.
— Eu não viria de tão longe se não fosse feliz aqui. Isso é uma terapia para mim. Um sorriso no rosto de alguém não sai da cabeça da gente depois — conta ela.
Empatia e inquietação
Silvana Rathes, 41 anos, nunca teve câncer. Ainda assim, uma das grandes alegrias de seu dia a dia é passar as manhãs junto ao Grupo da Mama. Levar conforto para os pacientes é um remédio para sua alma.
— A primeira coisa que uma mulher precisa, depois de receber o diagnóstico, é de um abraço — declara. — Eu estou aqui por amor.
A relação de Silvana com o grupo começou quando sua mãe, a irmã e uma prima foram tratadas. A partir de então, percebeu a importância do trabalho realizado pelo projeto e decidiu se voluntariar.
Silvana confessa temer o que a genética pode lhe reservar:
— Espero continuar ajudando por amor, não por precisar de tratamento.
Entrega e gratidão
Marli Modzelewski, 54 anos, é a mais recente integrante do Grupo da Mama – atua como voluntária há três meses. Ela foi atendida por Beatriz Dias, 59, que também foi acolhida pelo projeto, quando Flávia Terezinha, 76, acompanhou seu tratamento. O sentimento de gratidão é o que as faz retornar ao hospital, não mais como pacientes, mas como voluntárias.
— É um agradecimento pela acolhida que tivemos aqui. Sentimos a necessidade de retribuir – justifica Beatriz, atual presidente do grupo. — É gratificante ajudar, assim como receber ajuda.
A experiência propicia um olhar único, pois elas compreendem as angústias e os medos que as pacientes vivenciam durante o diagnóstico e o tratamento.
A vontade delas é de mostrar que a cura é possível, que é necessário ter ânimo, coragem, levantar a cabeça e não se entregar à doença, como destaca Beatriz.
Além de sua rotina no hospital, as voluntárias sempre reservam um dia para comemorar os aniversários do mês. A sala de espera é o local onde são compartilhadas experiências, troca de abraços e confidências.
Autoestima e coragem
Há três anos, enquanto realizava um exame de rotina, Camila El Tawil conheceu Edy Araújo, voluntária desde 2000 no Hospital Conceição. Por meio desse encontro, Camila teve a ideia de iniciar um trabalho de arrecadação de lenços, o Parceiras de Lenços, para mulheres que estavam sendo atendidas pelo Grupo da Mama.
Ela destaca que não é preciso ter câncer para ajudar. Por uma ironia do destino, no fim de 2017, Camila acabou recebendo a notícia de que estava com câncer. Mas não se deixou abalar:
— No dia em que recebi o diagnóstico, foi o dia em que declarei a minha cura.
Aos 29 anos, ela é uma inspiração para outras mulheres na mesma situação, ao não abandonar sua vaidade. Durante o tratamento, Camila sempre teve a preocupação de ir produzida, nunca esquecendo os brincos e a maquiagem. Segundo ela, é no momento da perda dos cabelos que a mulher percebe estar realmente com câncer. Camila também faz lives em seu Facebook, incentivando a autoestima dessas mulheres.
— Por que as pessoas sempre têm que falar coisas ruins sobre o tratamento? Teu cabelo vai cair, mas tu vai continuar linda. Eu sempre digo a elas para não deixarem a autoestima baixar, mostro que são lindas independentemente da doença.
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