O texto foi feito de forma despretensiosa, numa manhã em que Henrique Souza, 22 anos, recém havia pulado da cama e ainda estava tomando pé do dia que se iniciava. Ele já vinha matutando sobre o chamado caminho natural de um estudante de classe média brasileiro: terminar o Ensino Médio – com ou sem sobressaltos – e escolher o mais rápido possível uma profissão, para a qual estará inscrito no vestibular seguinte.
Então, naquela manhã ele registrou no Google Keep tudo o que pensava sobre essa trajetória preestabelecida e o quanto sair direto da escola para a universidade pode ser nocivo. Mostrou para a irmã e para alguns amigos, com receio de que estivesse sendo incisivo demais sobre um assunto que não é, assim, tão preto no branco. Publicou no Facebook, destacando em card a frase "Não entre na faculdade em 2018". Em horas, o post contabilizava centenas de curtidas. No começo da tarde desta sexta-feira (1º), registrava mais de 50 mil compartilhamentos e quase 200 mil curtidas, "amadas" e "uaus".
– Eu não imaginava mesmo que algo que escrevi pensando na minha irmã, que está numa fase de dúvida sobre a carreira profissional, e para amigos que têm entre 17 e 18 anos se tornasse um movimento – diz o estudante.
Henrique sugere no texto viralizado nas redes sociais que os estudantes não saiam direto do Ensino Médio para o Superior, sem antes ter o que ele chama de "experiência da vida real". Isso porque ele próprio, quando entrou no curso de Psicologia da UFRGS, em 2013 – depois de uma bem-sucedida vida escolar em São Leopoldo, onde morava até a aprovação no vestibular –, deparou com uma realidade acadêmica muito distante daquilo que imaginava. Não, não é que ele não gostasse das disciplinas, mas simplesmente não tinha claro o que de fato era uma carreira de psicólogo, sequer uma opinião formada sobre a profissão.
– Como eu sempre tive notas boas na escola, eu me culpava muito por não entender as cadeiras, e tinha um peso. Acho que muita gente tem essa visão de que o único caminho e o melhor é sair do Ensino Médio e entrar logo na faculdade. E isso não é assim. É importante agir, fazer coisas reais. Vejo muita gente querendo empreender, mas não faz nada sobre isso. Você não consegue descobrir o que quer ser se não agir, se ficar só pensando ou imaginando como as coisas são – analisa o estudante, às vésperas de entregar seu trabalho de conclusão de curso.
O que Henrique propõe no texto é que os estudantes apostem em experiências reais, desde a ajuda na empresa da família até um trabalho voluntário dentro ou fora da área que se imagina seguir, como forma de autoconhecimento. Além da faculdade, ele atua na start up Eurekka, que produz soluções tecnológicas e conteúdos nas áreas de psicologia, tecnologia e educação.
As elucubrações do universitário motivaram mais de mil mensagens de agradecimento diretas a ele, o que motivou a criação do grupo 6 Meses na Prática, em que as pessoas compartilham experiências e se propõem a ensinar algo para alguém. Essa segunda aventura de Henrique nas redes também foi fulminante: 10 mil já participam do grupo e outros 5 mil aguardam autorização para entrar.
– Minha ideia é manter esse grupo rolando daqui para a frente, por isso digo que não é mais só um texto, mas um movimento. Meu sonho é que um dia as pessoas percebam que é legal fazer coisas humildes, mas dentro do mundo real.