Incidentes em festas de formatura do Ensino Médio envolvendo o consumo de álcool por adolescentes fez com que o Ministério Público e um grupo de instituições de ensino particulares de Porto Alegre promovessem uma discussão mais sistemática sobre o tema. A partir daí, o Grupo de Trabalho das Escolas, formado pelos colégios Santa Inês, Anchieta, Farroupilha, Marista Rosário e Monteiro Lobato, e pelo Fórum Permanente de Prevenção à Venda e ao Consumo de Bebidas Alcoólicas por Crianças e Adolescentes, coordenado pelo Ministério Público Estadual (MPE), lançou no final de outubro a campanha Eu me Comprometo. A iniciativa pretende apoiar pais e familiares de adolescentes na abordagem dos riscos do consumo de álcool precocemente e na melhor forma de evitá-lo.
Esta é mais uma etapa de uma cruzada contra a prática tão naturalmente consolidada em muitas famílias. Primeiro, o grupo focou nas formaturas e conseguiu, a partir de um termo de compromisso, que as produtoras desses eventos não trabalhassem mais em festas com álcool disponível à gurizada menor de 18 anos. Agora, o alvo são os chamados "aqueces" ou "sociais", em que as turmas se reúnem para beber na casa de algum amigo antes de seguir para a balada.
— Por isso, a campanha agora é voltada para os pais dos adolescentes. Eles precisam se conscientizar sobre a responsabilidade que têm na exposição desses jovens a situações de risco impostas pelo consumo do álcool dentro de suas casas. Isso é um crime, mas muitas famílias não têm essa consciência. Nossa ideia é buscar uma parceria mais efetiva com elas — explica a psicóloga do Colégio Santa Inês, Bianca Sordi Stock.
"Os pais precisam se conscientizar sobre a responsabilidade que têm na exposição desses jovens a situações de risco impostas pelo consumo do álcool dentro de suas casas."
BIANCA STOCK
Psicóloga
Cada escola do grupo vai desenvolver atividades próprias para discutir o consumo de álcool entre os adolescentes, e a campanha está aberta à adesão de outras instituições que queiram apoiá-la. Nesta terça-feira, o Colégio Santa Inês fez o lançamento oficial da iniciativa com uma edição especial do projeto Conversa em Família, em que a psicóloga e psicanalista Giovana Cavalvante Serafini e o coordenador do Laboratório de Toxicologia Analítica do Instituto de Toxicologia e Farmacologia da PUCRS, Carlos Eduardo Leite, levaram informações sobre a melhor maneira de tratar o tema em casa.
— Temos de trabalhar a relação entre pais e filhos para que ela seja uma forma de proteção. Os pais precisam repensar o que é ser pai ou mãe de um adolescente. Não é o mesmo que ser de uma criança. É preciso cuidar para não proteger demais, o que não permite que os filhos cresçam, nem achar que tudo é fase, e ser permissivo com tudo — alerta Giovana.
O Fórum Permanente de Prevenção à Venda e ao Consumo de Bebidas Alcoólicas por Crianças e Adolescentes já vem trabalhando com o esclarecimento dos pais a respeito do problema. A promotora de Justiça Denise Casanova Villela, coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Infância, Juventude, Educação, Família e Sucessões, ressalta que o estímulo ou o consentimento frente ao consumo de álcool por crianças e adolescentes, dentro ou fora de casa, além de ser um risco à saúde – estudos comprovam que quanto mais cedo for a exposição ao álcool maior é a chance de dependência – traz inconvenientes mais sérios, como bullying e outros tipos de abusos.
— Não adianta termos fiscalizações nas festas se os jovens saem alcoolizados de casa. Nosso objetivo é esclarecer os pais, que, até por questões culturais, permitem esse consumo. Isso acaba estimulando que aquela criança ou aquele adolescente fique em situação mais vulnerável, o que abre espaço para outros tipos de violência — ressalta a promotora.
"É preciso cuidar para não proteger demais, o que não permite que os filhos cresçam, nem achar que tudo é fase e ser permissivo demais."
GIOVANA SERAFINI
Psicóloga e psicanalista
A arquiteta Eliana Matte Giacoboni e o marido, o administrador Renato de Magalhães Santiago receberam o material da campanha com entusiamos. Eles são pais dos estudantes Júlia Giacoboni Santiago, do 9º ano, e de Felipe Giacoboni Santiago, do 7º ano, ambos dentro da faixa etária mais suscetível
— É preciso que as famílias tenham tempo para dialogar. Acho que a orientação deve partir de casa. Reconheço meus filhos pelo olhar — comentou Eliana.
A campanha será divulgada em todo o Estado, e os materiais de apoio estão sendo disponibilizados pelo Centro de Apoio Operacional da Infância, Juventude, Educação, Família e Sucessões, do MPE, aqueles que quiserem se engajar na causa.
* Para saber mais sobre os materiais da campanha, ligue para (51) 3295-1222.