A redação em que uma aluna contava sofrer bullying por ter cabelos volumosos foi o ponto de partida para um projeto que revolucionou uma turma do oitavo ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Miguel Couto, em Nova Santa Rita, na Região Metropolitana. Dividida em grupos, a turma criou oito bonecos para trabalhar as diferenças e o preconceito.
A professora de português Renata Leal dos Anjos desafiou os alunos a criar problemáticas para cada um dos bonecos, que têm os mais diferentes perfis: nerd, homossexual, gordinho, patricinha, individualista, portador de síndrome de Down, com vitiligo e aluno de classe especial. Além de terem diferenças, cada um deles precisava viver um conflito, criado pelos alunos e que deveria ser resolvido por eles.
A professora despertou para o assunto a partir do texto escrito por uma estudante que criticava a existência de padrões e defendia a valorização das diversidade. A ideia dos bonecos surgiu como uma oportunidade dos alunos criarem um personagem com diferenças e se colocassem em seu lugar:
– Todos temos particularidades e, em alguns grupos, nem sempre isso é bem aceito. Algumas vezes, nós mesmos não aceitamos as diferenças dos outros – avalia a professora.
Segundo ela, essa é a oportunidade de trabalhar situações que os próprios alunos já viveram:
– O preconceito existe, todo mundo já sofreu alguma situação de bullying.
Caminho de dificuldade
Para os estudantes, foi desafiador dar vida, problematizar e, principalmente, criar soluções para os conflitos de cada boneco. Ao longo do trabalho, coube à professora instigá-los a pensar:
– Muitos não conseguiam encontrar solução para os problemas, tive que provocá-los a pensar sobre aquilo. Tentei fazer com que se expressassem através desse trabalho – explica a professora.
Nicolly Bastos Anauboldi, 14 anos, conta que ela e os colegas, ao escrever sobre os problemas do boneco, puderam falar de si mesmos:
– Coisas que a gente não contava para ninguém, conseguimos tratar através do boneco. A gente percebeu que não pode fugir dos problemas.
Segundo Joana de Souza, 13 anos, a história dos bonecos se mistura com os dramas que eles mesmos enfrentam. Só que, além de expor isso, também era preciso pensar em como vencer o problema:
– A gente entrou na vida da boneca. Nos colocamos no lugar dela, sentindo o que ela está sentindo.
O fim das panelinhas
O clima entre a turma também mudou. A estudante Ana Julia Silveira Santos, 13 anos, recusava-se a fazer trabalhos em grupo até compreender que era importante compartilhar opiniões entre os colegas.
– Gosto de trabalhar sozinha, principalmente quando o assunto que a gente trata é mais pessoal. Aí, a professora incentivou e eu fui me enturmando, aprendi a lidar com a opinião dos outros _ conta Ana Júlia.
– O entrosamento da turma melhorou muito, antes tinha muita briga, muita panelinha. A turma se uniu, descobrimos nossas afinidades – considera Ruan Paixão, 14 anos.