Você desembarca em um mundo amedrontado pelo terrorismo global e por mudanças climáticas catastróficas. Sempre houve internet, em todos os lados. No computador, no tablet, no smartphone, na TV. As telas onipresentes respondem ao toque de seus dedos. Você carrega os amigos no bolso, está com eles em tempo real, o tempo todo, seja pelo Facebook ou no WhatsApp. Vê qualquer filme, ouve qualquer música, obtém qualquer informação, quase sem esforço. Mas quase toda informação que você recebe é definida por algoritmos criados por corporações gigantescas.
Você tem medo de sair à rua, porque esse mundo é perigoso. No começo, você convive com o desenvolvimento acelerado, o enriquecimento e a euforia, mas depois tudo parece mergulhar em crise e corrupção.
Os principais políticos estão na cadeia, ou poderiam estar.
Você só conhece esse mundo, um mundo em que as mulheres estão em pé de guerra com os homens, questionando cada uma e todas as atitudes, e em que pela primeira vez uma mulher assume o governo, só para ser afastada algum tempo depois. Nesse ambiente, homossexuais, transexuais e transgêneros ousam dizer seu nome. E os negros, com espaço assegurado nas universidades, exigem reparação.
Esse é um mundo que não existia, apenas duas décadas atrás. É um mundo ao qual a maioria de nós teve de se adaptar, ou pelo menos se acostumar, ou pelo menos se resignar. Mas há milhões de brasileiros para os quais esse é o único mundo que já existiu. Porque, quando eles chegaram, já era assim.
E é possível localizar o abismo entre um grupo e outro no ano 2000. Quem nasceu antes ainda conheceu uma realidade diferente, em que telefones eram para telefonar, em que a música vinha em chapas circulares de policarbonato e em que se tirava uma dúvida na enciclopédia.
Mas quem nasceu naquele ano emblemático e redondo – e todos conhecemos o fascínio da humanidade pelos números redondos – já cresceu mergulhado no novo período digital, fervilhante e de transformações. Faz parte da primeira geração de uma nova era.
E essa geração – 3,2 milhões de brasileiros nascidos entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2000 – acaba de completar ou está completando a Educação Básica. Em pouco mais de dois meses, começa a ingressar na maioridade e a desempenhar um papel mais ativo na vida social, econômica e política do país. Eles se tornam o novo presente, e a semente do que o Brasil vai ser no futuro.
É a hora de conhecê-los e de entendê-los. Porque se eles cresceram e só conheceram um mundo diferente do que havia há tão pouco tempo, é provável que sejam também uma espécie diferente de seres humanos. Mas diferentes como? Não é uma pergunta fácil, há várias respostas possíveis. Eles são multifacetados. Compartilham a experiência de aparecer em um mesmo cenário, mas às vezes são até radicalmente opostos em suas visões e valores.
Apesar disso, é preciso conhecê-los. Nos links abaixo, GaúchaZH abre sete janelas para esse mundo. Revela as variadas facetas de sete adolescentes, meninos e meninas, brancos e negros, ricos e pobres, nascidos há 17 anos. Com vocês, a Geração 2000:
Marcella Cesa Bertoluci participou de projeto para adoção de crianças e quer lançar sua própria empresa - o quanto antes. A garota de 17 anos não sente atração pelo caminho tradicional de emprego estável e bem remunerado.
Tomar um caminho diferente dos outros sem se preocupar com a opinião alheia é uma marca geracional, defende Maicon Rambo. O adolescente está no terceiro e último ano do seminário, engrenado na rotina de madrugar para a oração diária e seguir até a noite em atividades de formação.
A adolescente que se criou no bairro Rubem Berta, em Porto Alegre, relata ter ficado mais madura com o nascimento do filho. Thaís da Silva dos Santos engravidou no ano passado, aos 16 anos. Largou os estudos quando a barriga começou a aparecer.
Rosana dos Santos Pereira estuda no colégio Anchieta (onde só identificou mais um aluno negro). A jovem, que não lembra de ter sido atendida por um médico negro ao longo da vida, está se preparando para fazer Medicina.
Acadiel Alex Perius tem dificuldade de conviver com gente da sua idade, porque quase não há adolescentes por perto. Vive na propriedade rural dos pais, empenhado em fazer aquilo que tantos jovens de sua geração não desejam: ficar no campo.
A adolescente que militou durante as ocupações das escolas estaduais em 2016 se define como seguidora do feminismo classista. Julia Souza Cruz foi embora de Porto Alegre este ano para viver com a família em Portugal.
Josué Carvalho Moraes, morador de Viamão, defende o sexo só após o casamento. O adolescente de 17 anos tem como ídolo político Jair Bolsonaro e está ansioso para dar seu primeiro voto nas eleições de 2018.