Um projeto social criado pela prefeitura de São Leopoldo com o objetivo de evitar afogamentos de crianças e adolescentes no Rio do Sinos está se tornando uma fábrica de formar campeões. Iniciado em 2005, o Canoagem na Escola acaba de ter cinco atletas convocados pela Confederação Brasileira de Canoagem para representarem o Brasil nos campeonatos pan-americano, em outubro, e sul-americano, em novembro.
— É o nosso melhor momento em 12 anos existência! E não vamos parar! — vibra o treinador dos estudantes, Luis Marcelo Carneiro, 32 anos, também convocado para integrar a equipe técnica da Seleção.
Duas vezes por semana, o projeto oferece aulas de canoagem para crianças e adolescentes que são alunos da rede pública de ensino da cidade. A cada ano, depois de uma inscrição prévia, os participantes são sorteados. Hoje, cerca de cem alunos praticam o esporte no Sinos.
A meta inicial era dar uma nova atividade a quem já gostava de se banhar, sem responsabilidade, nas águas turvas do Rio do Sinos. Desde 2011, porém, percebendo o potencial de ir além da atividade extraclasse, o projeto ganhou um clube, a Associação Leopoldense de Ecologia e Canoagem (Aleca), necessário para regulamentar a equipe nas competições no País.
— Formamos uma equipe de rendimento da Aleca e os resultados começaram a surgir. No ano passado, trouxemos 23 medalhas do Brasileiro de Canoagem. Este ano, foram 39, sendo 15 de ouro. O time formando no próprio projeto acaba servindo de exemplo para as crianças que estão chegando — justifica a coordenadora do projeto e presidente da Aleca, Daniela Gomes Maioli.
Estudante do oitavo ano, Saimon Justino Carvalho, 14 anos, foi dos alunos que se inscreveu no projeto depois de ver os treinos de outras crianças. No caso, a irmã, Aghata Justino Carvalho, 16 anos, que começou no Canoagem na Escola e hoje representa o Brasil em competições internacionais. Saimon integra o projeto há três anos e acaba de ser convocado pela primeira vez para a Seleção Brasileira, depois de se destacar no mais recente campeonato nacional.
— Vim pela brincadeira, mas descobri que tenho capacidade. No lugar de estar na rua nas horas vagas, estou aqui treinando e tentando fazer o meu melhor. Quero me tornar um atleta profissional — afirma, o jovem.
Aghata, convocada pela segunda vez para ir ao Sul-Americano, confessa que quase desistiu de fazer parte do projeto ao ser sorteada, aos 11 anos. Mas depois de estrear na água, não teve dúvidas: queria aquilo todos os dias. Atual vice-campeã sul-americana de canoagem velocidade nas categorias K4 200 metros e 500 metros, Aghata recebe bolsa atleta da Confederação Brasileira e segue treinando diariamente na Aleca.
— A canoagem mudou a minha vida. Passei a ter mais disciplina e responsabilidade. Amadureci mais rápido — ressalta a menina, que sonha seguir na canoagem e ser médica pediatra.
Além de Saimon, Eduardo Ademir Apollo, 15 anos, e Daniel Silveira de Souza, 16 anos, também da Aleca, estarão competindo pela primeira vez no Sul-Americano.
— Cheguei aqui pensando apenas na brincadeira. Agora, quero ser atleta profissional e chegar numa olimpíada — garante Daniel.
Desde fevereiro deste ano, outro atleta descoberto no projeto de São Leopoldo, Patrick Elieser da Luz Faustino, 18 anos, mora e treina em Curitiba (PR) junto com a equipe junior da Seleção Brasileira de Canoagem. Ele representará o Brasil no Pan-Americano de Velocidade, entre 12 e 15 de outubro, em Ibarra, no Equador.
Saiba mais
* Para participar os alunos da rede pública municipal podem se inscrever através da direção de suas escolas.
* As aulas da Escola de Canoagem ocorrem de segunda a quarta-feira, das 8h às 12h e das 13h30 às 17h.