Cerca de 6 mil especialistas em aids se reúnem em Paris a partir deste domingo (23) para informar sobre os avanços científicos relacionados à doença, enquanto continuam buscando uma vacina contra o vírus.
Mais de 30 anos depois da descoberta do vírus HIV, os cientistas não conseguem desvendar todos os seus mistérios, principalmente a capacidade que ele tem de se dissimular em algumas células do sistema imunológico, formando reservatórios virais que se reativam quando o tratamento é interrompido.
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Atualmente, os cientistas buscam maneiras de manter o vírus adormecido pelo maior tempo possível, limitar os efeitos colaterais e melhorar os métodos para prevenir a infecção.
– Erradicar completamente o vírus do corpo de um doente é algo muito difícil, se não impossível – aponta Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (NIAID), um organismo público de pesquisa nos Estados Unidos.
– Portanto, estamos focando mais na remissão sem antirretrovirais – explicou o especialista à AFP.
O novo termo em voga na comunidade médica é a "cura funcional". Diferente de uma cura tradicional, onde o vírus é erradicado, o paciente continua tendo o HIV no seu organismo. Mas o vírus estaria tão debilitado que não poderia se reproduzir nem ser transmitido a outra pessoa durante um longo período, sem a necessidade de tomar remédios diariamente.
As pessoas soropositivas devem tomar antirretrovirais todos os dias. Estes medicamentos, que apareceram na década de 1990, revolucionaram a vida das pessoas com HIV, mas têm efeitos colaterais que podem incluir diarreia, erupções cutâneas, náuseas, insônia e dores de cabeça.
Além disso, é um tratamento muito caro, ao qual 19,5 milhões de pessoas tinham acesso no final de 2016, o que equivale a mais da metade das 36,7 milhões de pessoas que vivem com HIV no mundo, segundo o último relatório da ONU.
O preço do tratamento nos países pobres oscila entre US$ 85 e mais de US$ 1.2 mil, quando os medicamentos de base se tornam mais resistentes, algo cada vez mais comum.
– Não podemos nos permitir continuar financiando uma epidemia desta proporção – alerta Linda-Gail Bekker, pesquisadora do Desmond Tutu HIV Centre, na África do Sul, e presidente da Sociedade Internacional da Aids, que organiza a conferência na capital francesa.
– Se a longo prazo pudermos reduzir o número de pessoas que precisam de tratamento graças à remissão, seria fantástico – acrescentou.
Conseguir que os pacientes tomem remédios o mais cedo possível após a infecção é considerada a melhor técnica, principalmente para os recém-nascidos.
Outras possibilidades promissoras incluem a injeção de anticorpos para neutralizar o vírus, o reforço do sistema imunológico dos pacientes com uma "vacina terapêutica" ou a injeção de antirretrovirais com ação de longa duração.
Mas, até agora, foram registrados poucos casos de remissão. Entre eles estão os de 14 pacientes de um estudo francês que interromperam o tratamento após tomá-lo durante três anos e desde então permanecem em bom estado de saúde, e o de uma adolescente que está em remissão apesar de ter parado de tomar a medicação há 12 anos.
Os Estados Unidos anunciaram em 2013 que um bebê nascido com HIV e que recebeu tratamento durante seus primeiros 18 meses de vida estava em remissão mais de dois anos depois de parar de tomar os medicamentos, mas o vírus se reativou, derrubando as esperanças dos pesquisadores.
Outra prioridade da pesquisa é a prevenção. Enquanto muitos pesquisadores continuam buscando uma vacina – o Santo Graal –, outros se dedicam a diversificar os métodos de evitar a infecção.
Além dos preservativos, está sendo explorada a eficácia de outros métodos, como o anel vaginal com antirretrovirais ou a circuncisão masculina para limitar a propagação do vírus.
Outros estudos mostram também que tomar antirretrovirais antes de um risco de contágio faz com que este diminua.
Mas estes "progressos extraordinários" estão "ameaçados pela redução do financiamento na pesquisa sobre o HIV", alerta a Sociedade Internacional da Aids.
Em 2016, a aids matou um milhão de pessoas, e mais de 1,8 milhão de pessoas foram infectadas, o que equivale a uma contaminação a cada 17 segundos em média.
* AFP