Há poucas semanas, "fidget spinner" era apenas um termo em inglês obscuro e de difícil pronúncia. Hoje, já está na boca dos brasileiros – especialmente dos mais novos. Figdet spinner é o nome dos brinquedinhos de plástico feitos para girar entre os dedos que prometem aliviar o estresse e ajudar no controle da ansiedade. Comprovação científica disso não há, mas a popularidade do brinquedo pelo mundo já é incontestável.
– Não tem nenhuma evidência de que (o brinquedo usado), a longo prazo, promova a saúde mental e a diminuição do estresse. Mas ao mesmo tempo não é um horror, não precisa entrar em pânico, não há evidência que também faz mal– diz o médico Marcelo Trombka, instrutor de mindfulness (uma prática, com seus benefícios comprovados, que busca trazer a pessoa para o momento presente, aliviando a ansiedade).
Basicamente, o objeto, uma febre nos Estados Unidos, é composto por quatro esferas: uma no meio e três outras ligadas a essa esfera central. Entre os dedos, os donos do spinner giram essas rodas com a mão e aproveitam as sensações sensoriais de observar o brinquedo virando. É moda também tentar fazer manobras ou mantê-lo girando por longos períodos de tempo.
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Nas lojas online, nos shoppings e nas tendas de ambulantes do centro de Porto Alegre, o spinner – pode aposentar o primeiro nome do brinquedinho que os atendentes das lojas vão entender – vem em inimagináveis combinações de cores e com características diferentes. Alguns têm as rodas ocas, outros foram feitos para girarem mais, há os que são mais leves. Os preços variam: de R$ 8 a R$ 99. No centro da Capital, o mais barato encontrado pela reportagem era de R$ 40, e os com luzes, R$ 60.
– Peguei na sexta-feira no atacado para comprar e hoje já não tem mais nada–relata o vendedor Emerson de Oliveira Peres, de 28 anos.
No YouTube, a popularidade do spinner já se mostra consolidada: um dos vídeos, em português ensinando manobras já tem mais de 1 milhão de visualizações. Em outro vídeo, um menino chamado Lorenzo senta na cama, gira o brinquedo entre o polegar e o indicador e tenta jogá-lo de uma mão para outra sem que o objeto pare de girar. As tentativas mostradas em vídeo já somam mais de 700 mil visualizações.
Foi pelo YouTube que Nicole Brusamarello Assis, 11 anos, descobriu o spinner. No último domingo reservou R$ 60 da mesada para garantir o seu em um passeio pelo shopping. Comprou um rosa com luzes coloridas.
Na sua escola, é a única até agora com o brinquedo. Em pouco tempo, aprendeu a girar com um dedo só. Ela também cita os tais benefícios terapêuticos:
– Eu fico bem concentrada quando fica girando. E no escuro é mais legal ainda, dá para ficar vendo as luzes.
O fluminense João Pedro Vieira, de 21 anos, administrador do grupo “Fidget Hand Spinner Brasil” no Facebook, vai além – diz que usa o brinquedo para largar de mão alguns hábitos:
– Eu uso como uma distração para parar de roer as unhas e de mexer um pouco no celular.
Com mais de 1,1 mil membros, a página, criada no começo de maio, é o local de reunião dos brasileiros para a troca de dicas sobre os objetos. Alguns mostram os seus construídos de forma artesanal, outros dão dicas e macetes.
Em uma das postagens do grupo, um menino pergunta qual seria o melhor rolamento para fazer o spinner rodar mais vezes ou pelo maior tempo possível.
– É com ele em movimento que você sente o "prazer", os efeitos visuais, que variam de acordo com a luz– relata outro menino.
"Viciante!", diz um terceiro, no Facebook.
A criadora do fidget spinner é uma americana do Estado da Flórida, conta reportagem do jornal britânico The Guardian. Nos anos 1990, Catherine Hettinger criou o brinquedo em uma tarde preguiçosa com a neta, que hoje tem 30 anos.
Vítima de uma doença que causa fraqueza muscular, ela passou a colar diferentes objetos juntos na busca de uma brincadeira que pudesse fazer com a neta mesmo sem se mover muito ou precisar de muito esforço. As duas criaram o primeiro spinner, e juntas se divertiam girando o objeto. Porque não tinha mais dinheiro para manter a patente, abriu mão. Hoje, não ganha um real pela invenção.
A própria criadora, em entrevista ao The Guardian, afirma que fica feliz de ver o boom do spinner. Especialmente porque o brinquedo seria usado em escolas para crianças com autismo e déficit de atenção.
Pelo mundo, os médicos afirmam que não há como comprovar os seus benefícios. Na aula, por exemplo, usar o brinquedo em meio à explicação da professora não traria mais concentração.
– O brinquedo tem um estímulo visual muito forte, a criança não vai conseguir ouvir a professora falar e girar o brinquedinho, isso prejudica o aprendizado – afirma Marcelo Trombka, médico e instrutor de mindfulness.
Para o especialista, o brinquedo é parecido com vários outros, como o ioiô. Ele afirma, que, possivelmente, pode ser usado por profissionais, de forma multidisciplinar para atender a demandas de crianças com dificuldades, como mais uma ferramenta. Sem instrução ou qualquer tipo de indicação profissional, não há como concluir que há qualquer benefício.
Em termos de atenção plena, a prática do mindfulness, que serve para auxiliar na estabilidade da atenção e na ansiedade, poderia até, em tese, ser feita com o brinquedo, diz Marcelo. No mindfulness, o praticante busca uma âncora para manter sua atenção no momento presente. Prestar atenção no brinquedo de forma curiosa poderia trazer um momento de mindfulness, mantendo o praticante focado no presente. Mas isso teria de ser feito em um local tranquilo e reservado, e com a intenção de fazer aquela prática.
Por isso, quem quiser girar pode se divertir. Mas a ciência ainda não respalda o marketing terapêutico feito em torno do spinner.