Não há droga mais eficiente para curar a dor do que o nosso próprio cérebro. É nele que está o caminho para sanar essas sensações desagradáveis, defendeu o neurologista gaúcho Pedro Schestatsky, palestrante de uma mesa redonda do Brain Congress, o congresso do cérebro, evento sobre neurociência e emoções que segue até este sábado em Porto Alegre.
Intitulada de "No brain, no pain" – um trocadilho à popular frase da turma da academia "no pain, no gain" (sem dor, sem ganho) – a palestra mostrou os diversos mecanismos que ocorrem no cérebro durante episódios de dor, além de apontar medidas para amenizá-la ou até mesmo curá-la. Schestatsky apresentou evidências da Neuroplástica, teoria desenvolvida pelo americano especialista em dor Michael H. Moskowitz, após vivenciar experiências próprias de dor aguda. Essa ciência dedica-se a curar a dor unindo cérebro e corpo.
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– O cérebro pode curar a dor – garantiu Schestatsky ao defender a tese de Moskowitz.
Segundo os experimentos do americano, que sofreu uma grave lesão na perna após cair de um tanque do exército, a dor ativa diversas partes do cérebro. Três delas também respondem pela visão. Assim, ele criou o conceito da plasticidade competitiva, que consiste em usar imagens para aliviar a dor. Na prática, é como se a visão "roubasse" a atenção dessas áreas comuns do cérebro, fazendo com que a dor diminua.
Embora simples, a ideia requer treinamento, foco e disciplina. Moskowitz repetia o procedimento toda a vez que sentia dor e o fez até eliminar por completo a sensação desagradável.
– Não acredito em medicamentos a longo prazo. Eles têm papel importante para efeitos transitórios. Acho que é possível investir em técnicas sustentáveis, como realidade virtual, realidade aumentada – defendeu o palestrante.
Só o tempo cura dor de amor
No mesmo encontro, participaram Alexandre Annes Henriques, psiquiatra do Serviço de Dor e Medicina Paliativa do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, e Antoine Bechara, neurologista, psicólogo e professor da Universidade do Sul da Califórnia.
Henriques abordou a importância de uma equipe multidisciplinar, incluindo um psiquiatra, para o tratamento da dor. Ouvir o paciente e não menosprezar suas palavras também foram apontadas como fatores fundamentais para o alívio da dor.
– É preciso acreditar no paciente, pois a dor dele é real – destacou.
Bechara falou de uma das dores mais comuns do ser humano: a do amor. Para o libanês radicado nos Estados Unidos, amenizar essa sensação ruim após o término de um relacionamento, por exemplo, não é fácil. Alternativas seriam estimular a produção de dopamina, neurotransmissor responsável pelo prazer e bem-estar. Mas Bechara apontou a única "droga" possível para esse tipo de sofrimento:
– O tempo.