– Dá até pena de morrer. Hoje a gente tem tudo.
Essa é uma das constatações que dona Lydia Zaffari Parmegiani faz da vida dois dias depois de completar 109 anos. A moradora mais velha de Monte Belo do Sul, município com 3,9 mil habitantes, é ponto de referência na pequena Linha Colussi, no interior da cidade. Não há quem não conheça a franzina senhora centenária que mora na região desde que nasceu. Mas, mais do que se impressionar com a idade de dona Lydia, o que comove mesmo é a sua lucidez e força de vontade. Na casa que divide com quatro dos seis filhos - o mais velho está com 75 anos e não fala depois de sofrer um AVC - (duas filhas moram em Bento, mas ficam boa parte do tempo na casa da mãe), distante 20 quilômetros do centro de Monte Belo, ela se locomove sozinha.
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Já não prepara mais as refeições da família, mas ajuda com a louça e se orgulha de arrumar a cama do seu jeitinho. Constantemente de bom humor, só perde o sorriso quando insistem em ajudá-la nas atividades diárias.
– Ela é teimosa, mas nos ensina todos os dias a não perder o alto astral. Essa deve ser a receita da longevidade – acredita a filha Umbelina, 70.
Aos 109 anos, Lydia gosta de conversar e fala um pouco em português, um pouco em dialeto italiano. Mas o predomínio, mesmo, é do idioma que aprendeu com os pais vindos da Itália. A senhora que sempre trabalhou no campo, tirando leite de vaca e ajudando a "lavrar o campo com um arado pesado", como ela lembra, garante que é preciso força para se levantar da cama diariamente. Há dias, tenta se curar de uma gripe forte, que a deixou alguns dias no hospital. Também ficou um pouco mais fraquinha quando, há alguns anos, precisou fazer uma cirurgia no coração. Para tentar deixar a saúde sempre em dia, conta que come de tudo e não deixa de tomar vinho doce, uma mistura de vinho com guaraná, pelo menos duas vezes ao dia. De manhã cedo, em jejum, uma colher com azeite de oliva é sagrada.
– Tomo ela e um montão de remédios. Os comprimidos porque o 'doutor' mandou; o azeite é porque faz bem – sentencia, entre risos.
O avanço da medicina nesses mais de 100 anos é um dos fatos mais emblemáticos na memória de Lydia, uma das 640 pessoas com mais de 60 anos em Monte Belo do Sul. Há anos, com supervisão das filhas, não deixa de fazer exames de rotina. Poder frequentar um consultório é uma satisfação para a centenária senhora, que acha que poderia ter parte do movimento da mão direita salva se, quando adolescente, nos anos 1930, tivesse sido atendida por um especialista. Na adolescência, ao ajudar os pais na agricultura, passou a foice no dedão, cortando o tendão.
– Tive que colocar uma atadura em casa e ficar segurando até que fechasse. Infeccionou, doeu, e hoje vejo que os 'doutores' que temos agora resolveriam com facilidade – acredita.
Mas para quem pensa que o segredo para chegar aos 109 anos com toda essa lucidez é comer e dormir bem, ou se cuidar, dona Lydia aposta em mais:
– É sorte.