A turismóloga de Florianópolis Graziela Allan, 28 anos, está grávida pela terceira vez. Depois de conceber dois meninos, dentro de dois meses será a vez de ela dar a luz a uma garotinha. Um vídeo (veja abaixo) publicado nesta semana, onde ela aparece levantando pelo menos 25 quilos em uma barra de ferro, tem gerado repercussão na internet – já são mais de 7 mil visualizações. Há quem tenha dúvidas acerca do impacto da atividade física, principalmente em níveis intensos, durante o período da gestação.
Em todas as três vezes que esteve grávida, Graziela manteve a rotina de aulas de crossfit, um programa de treinamento de força e condicionamento físico geral baseado em movimentos funcionais feitos em alta intensidade e constantemente variados. Quando foi mamãe de primeira viagem, dava mais atenção à prática de pilates e yoga, mas depois voltou-se totalmente às aulas da CrossFit Floripa, onde a aluna de quatro anos fez a gravação publicada nas redes sociais.
– Recebo muitas críticas constantemente, me chamam de louca. Até na academia tem gente com preconceito. Isso me incomoda um pouco, é claro, e me inibe de postar mais e compartilhar meus treinos. Mas estou tranquila, porque a prática é autorizada pela minha médica. Eu já estava acostumada, porque treino há quatro anos, então não tinha porque parar – diz Graziela, que vai entrar no sétimo mês de gestação com somente quatro quilos a mais.
Para a turismóloga, além da perda de peso, os benefícios de manter-se ativa durante a gravidez contemplam o dia a dia, já que ela também precisa estar em função de outras duas crianças. Ela reconhece, no entanto, ter adaptado os treinos durante a gestação.
– Diminuí a intensidade. Pego entre 50% e 60% menos de peso do que pego normalmente. Não vou tão fundo. Não tenho personal trainer, mas os coachs estão sempre de olho e me alertando – garante.
Prática deve ser supervisionada
O sócio e coach da CrossFit Floripa, Jonas Salomão Spricigo Júnior, aconselha o crossfit somente se a aluna já era praticamente antes do início da gestação.
– Se chega uma grávida de dois meses aqui no balcão, dizendo que gostaria de iniciar esse tipo atividade física, eu até aconselharia treinar aqui, mas diria para começar com um personal trainer. Porque não se conhece o histórico de prática de atividade física dela. Todas as grávidas que treinamos aqui já eram praticantes.
O educador físico orienta que, desde que adaptados, os exercícios podem oferecer benefícios específicos às mamães fitness, especialmente na hora de parir.
– A ideia é garantir a manutenção do condicionamento físico, e não o ganho. Por isso, há redução de intensidade e volume dos movimentos, além de evitar aqueles exercícios de barriga para baixo. Em compensação, o agachamento e o levantamento terra favorecem a musculatura pélvica, o que pode ajudar no momento do parto – explica Spricigo Júnior.
Indicação médica é de exercícios aeróbicos
A partir de uma visão mais tradicional da atividade física, o presidente da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia de Santa Catarina, Ricardo Maia Samways, pondera que o exercício na gestação deve ser bem avaliado.
– Cada paciente tem uma história diferente. Tem aquelas que não tem problema nenhum, consideradas de baixo risco, por não terem pré-disposição à rotura [rompimento] de bolsa e ao parto prematuro, que podem ser identificados na ultrassonografia de 20 semanas com medição do colo uterino. Essas podem continuar a musculação ou o levantamento de peso, desde que já tinham essa prática – orienta.
As atletas grávidas devem ser reavaliadas por um ginecologista obstetra no próprio pré-natal, conforme defende Samways. De qualquer forma, ele prefere indicar exercícios de menor impacto.
– De preferência, indicamos o aeróbio: uma caminhada, uma hidroginástica, sem impacto. O crossfit eu desaconselho por completo. Se ela permanecer a fazer, tem que ter acompanhamento de profissional da educação física bem de perto, para saber o que pode fazer, o que pode levantar.