Para muita gente, o novo ano começa com a esperança de abandonar um grupo de 12 milhões de brasileiros. Este é o número de desempregados divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos últimos dias de dezembro, revelando a fatia dos trabalhadores que terminaram 2016 buscando trabalho.
Foi a esperança de sair deste grupo que levou os irmãos Jefferson André dos Santos Franco, 22 anos, Greicy Cristina dos Santos, 24 anos, e Anderson Luís da Silva, 20 anos, à fila do Sine da Rua José Montaury, no Centro da Capital. Moradores do Morro da Cruz, na Capital, eles tinham esperança de encaminhar, na largada de 2017, o emprego que ajudaria no sustento da família, composta por dez pessoas.
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Mas o primeiro dia útil do ano não foi fácil para os 120 trabalhadores que ocupavam as cadeiras na área de espera na agência. Na tentativa de encontrar uma vaga de emprego ou encaminhar o seguro-desemprego, deram de cara com o sistema Mais Emprego, do Ministério do Trabalho, fora do ar. Nada podia ser encaminhado, e a alternativa para quem não queria voltar para casa de mãos vazias foi esperar.
– É um problema no sistema nacional. Mesmo após voltar a funcionar, continuava instável. Para quem tinha atendimento agendado para encaminhar o seguro, remarcamos – conta a coordenadora da Agência FGTAS/Sine Centro, Gizelda Costa.
Os irmãos lamentaram a falha no sistema.
– Não podemos desperdiçar essas passagens de ônibus para vir até aqui – disse Jefferson, que almeja uma vaga de auxiliar administrativo após concluir o ensino médio em 2016.
Greicy não desiste de encontrar uma vaga de operadora de caixa. Ela completou um ano dessa busca.
– São apenas dois salários para sustentar todos. Então, viemos em três procurar – diz ela, que foi demitida porque o empregador não teve condições de mantê-la.
Medo da violência
Diferente foi a história que fez o auxiliar de limpeza Anderson entrar no desemprego. Em vez da crise econômica, foi abatido por outro mal que atormenta os porto-alegrenses: a violência. Trabalhando à noite, foi assaltado no Centro. Tentou trocar de horário, mas não conseguiu.
– Levaram meus tênis e meu celular. Se esses caras me pegam de novo, não vou ter nada para entregar e eles vão é me matar – conta o jovem.
Em busca de uma chance para bancar os estudos
Às 5h45min de desta segunda-feira, a estudante Tainara Koch, 22 anos, chegou à mesma fila onde também estavam os três irmãos. Ela conta os meses para concluir o curso de Magistério no Instituto Estadual de Educação Isabel de Espanha, em Viamão, onde mora. Mas, antes disso, precisa se manter e dar conta dos gastos com material escolar.
– Em 2019, eu vou estar fazendo os estágios. Sempre gostei de crianças, é o meu sonho atuar na educação infantil. Só que, até lá, eu tenho de trabalhar para me manter. A gente gasta muito com material escolar, cadernos, lápis de colorir, cola quente – explica ela, que procura ocupação como atendente de loja.
Com o sistema do Sine fora do ar, Tainara esperou até o meio-dia antes de voltar para Viamão. Por causa do preço das passagens de ônibus, pretende esperar uns dias, ter certeza de que está tudo funcionando e só então retornar à agência. Já os irmãos Jefferson, Greicy e Anderson esperaram pela volta do sistema na agência até as 13h, quando decidiram desistir. Mas a batalha segue hoje, quando pretendem sair de casa às 5h para nova tentativa.
Segundo a FGTAS, a Dataprev, responsável pelo sistema do Ministério do Trabalho, foi informada ainda na manhã desta segunda-feira do problema e estava tomando medidas para solucioná-lo.
Criação de empregos
Para tentar reverter o quadro de 12 milhões de desempregados, a aposta do governo federal neste ano é o projeto com alterações na legislação trabalhista que vai para o Congresso Nacional em forma de projeto de lei.
Entre as propostas, está o fortalecimento de negociações coletivas, o fracionamento de férias em até três períodos e medidas com a intenção de combater a informalidade, aumentando multas pelo não registro de trabalhadores.
O potencial do pacote, segundo o governo, é estimular a criação de mais de 5 milhões de empregos.Enquanto nada disso sai do papel, as agências do Sine seguem cheias de gente.