Uma espécie de réptil herbívoro, pertencente à linhagem ancestral dos crocodilos e das aves, é a mais recente descoberta da paleontologia brasileira. Chamado de rincossauro, o Brasinorhynchus mariantensis foi encontrado em Mariante, um distrito de Venâncio Aires, em 1970, e virou objeto de estudo de um paleontólogo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
De acordo com os estudos, o animal tinha o tamanho de um porco grande, com cerca de três metros de comprimento e crânio similar ao de um cavalo. Ele viveu no Rio Grande do Sul há cerca de 238 milhões de anos, em meados do Triássico, período imediatamente anterior ao do surgimento dos dinossauros.
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Quando os primeiros dinossauros apareceram nos pampas, cerca de sete milhões de anos depois, sabe-se que por lá pastavam manadas de rincossauros, porém nenhum deles parecido com o brasinorrinco. Por suas características, foi possível identificar semelhanças com os rincossauros que viviam na África, o que reforça a evidência da união dos continentes.
A descrição do exemplar brasileiro de rincossauro foi feita pelos paleontólogos Cesar Schultz, da UFRGS, Max Langer, da Universidade de São Paulo (USP), e Felipe Montefeltro, da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
– Sabia da existência daquele crânio desde 1980, quando entrei no Setor de Paleovertebrados da UFRGS. Comecei a olhar com mais atenção para aquele 'rincossauro torto' a partir de 1987, quando comecei o doutorado. Na época, estudava o modo como a fossilização típica do período Triássico do Rio Grande do Sul deformava alguns fósseis, a ponto de fazer com que pertencessem a táxons diferentes. Entretanto, aquele crânio, apesar de estar claramente comprimido lateralmente, não era de modo algum semelhante aos outros rincossauros gaúchos que já conhecíamos. Era mais comprido do que largo, exatamente o oposto à morfologia craniana dos rincossauros mais comuns no Rio Grande, mais largos do que compridos – comenta Schultz.
Em 1991, o pesquisador fez uma descrição preliminar do fóssil, que ainda passou por novos estudos e ficou engavetado por quase 20 anos. A publicação da descrição só veio neste ano, após um pedido de pesquisadores argentinos que também identificaram fósseis semelhantes no país vizinho.
–Colegas argentinos me avisaram que encontraram um animal semelhante e que já haviam começado a descrevê-lo. Como eles sabiam da existência desse fóssil brasileiro, disseram que aguardariam nossa descrição ser publicada para publicar a deles – explica Schultz, destacando o exemplo de camaradagem científica do grupo argentino.
*Zero Hora com Agência FAPESP