A lei que obriga todos os motoristas a transitarem com o farol baixo ligado durante o dia nas rodovias, sancionada nesta semana, pode reduzir o número de mortes no trânsito, segundo especialistas. A alteração no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) entrará em vigor em 8 de julho. Os motoristas têm 45 dias para se adaptarem à mudança. Depois disso, quem esquecer de ligar os faróis estará cometendo uma infração média.
Embora possa gerar mais custos para os motoristas, que terão de trocar as lâmpadas dos faróis com mais frequência, a mudança é elogiada por especialistas em trânsito. Isso porque o custo dessa manutenção é insignificante diante dos acidentes que ela pode evitar.
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Professora do Laboratório de Sistemas de Transportes da UFRGS e doutora em Segurança Viária, Christine Nodari afirma que qualquer medida que possa aumentar a chance de perceber o veículo com maior antecedência contribui para a segurança no trânsito.
– Em torno de 10 pessoas morrem por semana no trânsito gaúcho. O farol ligado dá aos motoristas mais tempo para reação, evitando que os outros carros sejam vistos apenas quando estão muito próximos. Se conseguirmos frear 10 segundos antes, isso pode fazer a diferença – explica.
Professor de Engenharia Civil da UFRGS e doutor em Transportes, João Fortini Albano também concorda com a nova regra. Conforme o especialista, o aumento da visibilidade pode reduzir os acidentes que são causados pela distração, que contribui para 30% dos casos.
– A luz despertará a atenção dos motoristas que trafegam no sentido contrário – afirmou.
Para as motos e os ônibus, ao circularem em faixas próprias, o uso dos faróis já é obrigatório durante o dia e à noite. Para os outros veículos, é obrigatório apenas durante a noite e em túneis, independentemente do horário, ou em casos de chuva, neblina e cerração.
A proposta de mudança teve início na Câmara dos Deputados e foi aprovada pelo Senado no fim de abril. Em 23 de maio, foi sancionada pelo presidente em exercício Michel Temer.
No Rio Grande do Sul, houve uma lei estadual de 1996 que tornava obrigatório o uso do farol durante o dia, mas ela vigorou por pouco tempo. A norma foi considerada inconstitucional pelo fato de somente a União ter poder para legislar sobre trânsito e transporte.
– A efetividade da medida não pode ser avaliada no curto espaço de tempo em que vigorou no Estado, mas estamos convencidos de que ela influenciará positivamente na redução da acidentalidade, já que baseia-se em uma das regras de ouro da segurança no trânsito: ver e ser visto – avalia o diretor-geral do Detran gaúcho, Ildo Mário Szinvelski.
Orientação é para condutores começarem a usar
Tanto a Polícia Rodoviária Federal (PRF) quanto o Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) orientam os condutores a ligarem a partir de agora os faróis quando ingressarem nas rodovias, para se habituarem com a mudança e não serem surpreendidos por uma multa em julho. Antes que a lei entre em vigor, os órgãos também farão ações de divulgação e orientação.
O superintendente da PRF no Estado, Pedro Souza, afirmou que o órgão já começou a alertar os motoristas sobre a mudança na lei durantes as fiscalizações. Conforme o órgão, uso de faróis durante o dia permite que o veículo seja visualizado a uma distância de três quilômetros por quem trafega em sentido contrário.
– Tenho certeza de que isso vai contribuir para reduzir os acidentes, pois aumentará a visibilidade dos veículos. Há estudos com resultados positivos em vários países – relatou Souza.
Além de divulgar a mudança nas redes sociais, o CRBM fará uma operação sobre a nova lei nas estradas gaúchas. O comandante do órgão, tenente coronel Francisco de Paula Vargas Júnior, afirma que a ação está prevista para ocorrer cerca de 10 dias antes da entrada da norma em vigor.
– Para as motos essa medida já é obrigatória e reduziu significativamente os acidentes. A mudança facilitará a visualização dos carros escuros no asfalto – exemplifica Júnior.