O par de olhos castanhos desconfiados de João Gabriel percorre a sala de recreação da Casa de Apoio Madre Ana enquanto empurra, para frente e para trás, os vagões de um trenzinho de plástico que acabou de encontrar sobre uma mesa quase do seu tamanho. Aos três anos e milhares de quilômetros distante de sua casa, no Maranhão, ele ainda tenta assimilar as novidades que marcaram suas últimas 24 horas: do excesso de roupas no corpo acostumado a bermuda e sandália aos outros vários novos pares de olhos que cruzavam com os seus, curiosos sobre o primeiro morador da casa de acolhimento da Santa Casa de Misericórdia, inaugurada nesta terça-feira. O local, inicialmente com 30 dormitórios, abrigará pacientes e acompanhantes de hospitais da Santa Casa de fora da Porto Alegre.
Natural de Bacabal, a 240 quilômetros de São Luís, João chegou à Capital na segunda-feira, acompanhado da mãe, para pôr fim à rotina que o acompanha há dois terços de sua vida: na quinta-feira, irá realizar uma cirurgia cardíaca no Hospital da Criança Santo Antônio. O procedimento irá inverter duas artérias do seu pequeno coração que nasceram trocadas. E, se tudo der certo, vai devolver-lhe o fôlego de criança, que hoje é limitado – e o obriga a tomar dois remédios por dia.
– Descobrimos o problema quando ele tinha oito meses. Felizmente, o João Gabriel nunca teve crises, mas hoje não pode fazer muito esforço. Espero que ele saia bem da cirurgia – disse a mãe Luzia Alves da Silva, 30 anos.
Nos últimos dois anos, o dia a dia da família maranhense consiste na busca por um lugar para operar o menino pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Antes de chegar a Santa Casa, meses atrás, a oportunidade de realizar o procedimento em Fortaleza, mais perto do estado onde vivem, chegou a animar Luzia. Mas o local foi das dezenas de centros de de cardiologia pediátrica do país fechado por dificuldades financeiras.
Na semana santa, porém, veio o aviso sobre a possibilidade de realizar a cirurgia no hospital gaúcho. Com a passagem aérea custeada pelo SUS, a dona de casa contou, desde o princípio da saga, com a solidariedade alheia para viabilizar o tratamento do filho: sua irmã organizou um bingo na cidade onde mora para ajudar a comprar roupas de frio e custear sua estadia em Porto Alegre. Na chegada à Capital, depois de sua primeira viagem de avião, emocionou-se ao ver o quarto decorado com brinquedos onde dormiria com João Gabriel.
– Eu vi pelo Facebook que teria essa Casa de Apoio. Fiquei muito admirada quando cheguei. É tudo lindo, as camas, os brinquedos – comenta Luzia.
Leia mais:
Irmandade da Santa Casa de Misericórdia nomeia 63 novos membros
Santa Casa inaugura equipamento capaz de realizar mais de mil exames diferentes
Casos como o da dupla maranhense devem ser os mais frequentes entre os moradores provisórios da Casa de Apoio, segundo a responsável pelo local, Adriane Barboza. Até então, as casas de acolhimento da Capital, que atendem a diversos hospitais, só aceitavam pacientes oncológicos ou transplantados – ainda assim as vagas eram insuficientes. Mas, com a diminuição dos centros de cardiologia pediátrica Brasil afora, a demanda por esse serviço na Santa Casa cresceu nos últimos anos.
– A parte mais difícil foi adequar esse ambiente, que era uma casa de senhoras, para receber crianças. Ainda precisamos de doações de coisas para bebês, como berços, carrinhos e cadeiras de amamentação, mas já é um começo – conta Adriane, que coordena o Serviço Social da Santa Casa de Misericórdia.
Luzia deve ficar hospedada na casa durante todo o período de internação de João, que dará entrada no hospital nesta quarta-feira. A cirurgia do menino, que será realizada pelos médicos Aldemir Nogueira e Daniel Hoyer, deve durar cerca de três horas.
Como ajudar a Casa de Apoio Madre Ana
Depósito em conta
Banco Itaú
Agência: 5906
Conta: 17293-6
CNPJ: 92.815.000/0001-68
Carnê
Contribuição de R$ 60 por mês, pelo período de um anoO envio do carnê pode ser solicitado pelo e-mail casadeapoio@santacasa.tche.br
Doação direta
Tesouraria da Santa Casa
Rua Prof. Annes Dias, 295
De segunda à quinta-feira, das 9h às 11h e das 14h às 16h. Sextas-feiras, das 9h ao meio-dia e das 14h às 16h