Neste final de semana, as ruas da Capital receberam corredores para a 32ª edição da Maratona Internacional de Porto Alegre. Com recorde de 7,5 mil inscritos, o evento reuniu atletas de todo o país - e de todos os níveis de preparo físico.
Mas se você, empolgado com o evento, logo pensou em calçar um par de tênis e sair para a rua em busca do condicionamento necessário para completar os 42 quilômetros em 2016, é bom ir com calma. O primeiro passo a ser dado é rumo ao consultório de um médico especialista, que será capaz de avaliar sua saúde e ajudar a traçar metas específicas para seus objetivos.
- Será feito um eletrocardiograma e, dependendo da idade e do histórico familiar, pode-se solicitar um exame de esforço - indica o médico do esporte Henrique Calheiros Soares Pinheiro.
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É preciso garantir que a pessoa não tenha nenhum problema cardiológico e, caso tenha alguma doença crônica - como diabetes, asma ou hipertensão -, ela deve estar controlada. Pinheiro acredita que, com disciplina e dedicação ao treinamento, é possível vencer os 42 quilômetros com um ano de treinamento:
- É preciso cuidar da alimentação e não cometer esforços acima do apropriado. O esforço deve ter aumento gradual para evitar lesões - aconselha.
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Fábio Torres, cardiologista do Hospital São Lucas da PUCRS, também acha possível cruzar a linha de chegada em pouco tempo, mas destaca que é "um objetivo ousado".
- Tecnicamente, é possível. É um trabalho progressivo. Se a pessoa for sedentária, vai começar com uma caminhada e evoluir - garante.
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Contudo, Leonardo Rossato Ribas, educador físico e proprietário do grupo de corrida PerCorrer, avalia que é preciso pisar no freio na hora de impor objetivos tão grandes.
- Pessoalmente, não recomendaria que uma pessoa que nunca correu entre de cabeça no treinamento para uma maratona com tão pouco tempo, mas há sempre quem queira e há sempre as exceções - alerta.
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Para Ribas, o tempo mínimo de preparo para quem deseja cumprir o percurso completo varia de três a quatro anos. No entanto, há pessoas com aptidão para a corrida que, com um ano de treinamento, conseguem completar o trajeto. Para elas, a sugestão do especialista seria três meses de adaptação na modalidade, mais seis para melhorar as resistências física e mental, e, após este período, três meses focados na maratona. Aos aspirantes que já se arriscam nas ruas, a maratona não é um sonho tão distante. No entanto, não se deve cobrar resultados:
- Em um ano, é possível que uma pessoa passe de uma prova de 10 quilômetros para uma maratona, mas sem a pretensão de alto rendimento.
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Além dos cuidados clínicos e do preparo físico, outro ponto a ser considerado é a alimentação. Ela deve estar de acordo com o treinamento e ser acompanhada por um profissional da área.
- É fundamental que a alimentação esteja englobada no treino. Há o que chamamos de periodização nutricional, que pode aumentar ou diminuir o aporte de carboidratos e proteínas de acordo com a intensidade dos treinos- explica Rodrigo Macedo, nutricionista esportivo e docente de graduação e pós-graduação da Faculdade Fátima, de Caxias do Sul.
De resto, a alimentação deve ser equilibrada, com consumo de carboidratos, proteínas magras, vegetais e frutas para repor os minerais e hidratação correta. O consumo excessivo de bebidas alcoólicas e de doces também deve ser evitado. O primeiro atrapalha a recuperação e o treino, enquanto o segundo acelera o processo de acúmulo de gordura.
- O consumo de açúcar prejudica indiretamente, pois deixa a pessoa mais propensa a formar gordura - explica.
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Na semana que antecede a competição, deve-se redobrar os cuidados com a comida, aumentando a ingestão de carboidratos e reduzindo as gorduras. E, quanto mais próxima a data da prova, não se deve inventar.
- Não se deve testar coisas novas na hora da competição. Alimentos e suplementos novos podem causar desconforto - alerta.
Tempo para dedicação é um dos maiores desafios
O treinamento não é fácil. Ele exige, no mínimo, sete horas e meia de dedicação exclusiva à corrida por semana, o que significa de 60 a 80 quilômetros de sola de sapato gastas. Além disso, é importante fazer treinos de reforço muscular, o que exige ainda mais tempo do aspirante.
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Para o educador físico Leonardo Rossato Ribas, o grande desafio é conciliar a agenda pessoal com a de treinamento.
- Devemos lembrar que estas pessoas são "profissionais atletas", e não "atletas profissionais". O descanso pós-treino quase não existe. E, para se treinar mais, é necessário que se tenha mais tempo para recuperação. Assim, as adaptações orgânicas são maximizadas.
Somados aos treinos, há, ainda, a necessidade de acompanhamento junto a outros profissionais da área da saúde.
- É preciso procurar um especialista para entender o que pode acontecer no corpo durante a corrida, além de prevenir e tratar lesões antigas. Não se pode achar que, para correr a maratona, é só sair correndo - avalia Maria Luisa Villanueva Antúnez, fisioterapeuta que trabalha com atletas da seleção brasileira de atletismo no Estado.
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