A decisão do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) de estender ao transporte escolar a obrigação de utilizar cadeirinhas para transportar crianças de até sete anos e meio - já válida para veículos de passeio - é aplaudida por especialistas em segurança no trânsito, mas vista com ressalvas pelos proprietários de vans e micro-ônibus. Medida deve ser publicada nesta sexta-feira no Diário Oficial da União, para entrar em vigor no dia 1º de fevereiro de 2016.
Christine Nodari, pesquisadora do Laboratório de Sistemas de Transportes da Ufrgs, avalia que, além de trazer mais segurança em caso de freada ou batida, o uso de cadeirinhas reduz o risco de que pequenos tirem os cintos enquanto o carro está em movimento, longe dos olhares do motorista.
- O cinto convencional não fornece segurança para crianças em caso de acidente, nem o transversal, nem o de cintura - explica.
De acordo com a ONG Criança Segura, o trânsito é responsável pela maior parte das mortes acidentais de crianças de 0 a 14 anos no Brasil. Apenas em 2012, foram 1.862 casos - média de cinco por dia. Conforme a organização, 90% dos acidentes poderiam ser evitados com medidas preventivas.
Renato Santos Coelho, pediatra clínico integrante do Comitê de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, afirma que a medida é importante, mas vê um desafio aos motoristas das vans:
- Além de colocarem as crianças nas cadeirinhas, eles terão de explicar a importância de permanecerem sentadas. Senão elas tiram o cinto e saem engatinhando pelo carro.
Embora reconheça a importância da prevenção, o assessor institucional do Sindicato dos Proprietários de Veículos Escolares do Rio Grande do Sul (Sintepa), Jaires Maciel, aponta duas dificuldades para se adequar à resolução. A primeira é o investimento, que ele calcula ser de R$ 300 por cadeirinha, e poderá impactar no preço do serviço.
O maior entrave, no entanto, é de natureza operacional, ressalta. Um veículo escolar roda pela manhã, tarde e noite sem passar pela garagem. Se à tarde ele atende uma creche e à noite, uma universidade, terá que instalar e desinstalar diariamente as cadeirinhas. Também terá dificuldade em guardá-la, pois não cabem nos porta-malas das vans. Por fim, há risco de transportar menos alunos, pois os assentos para crianças de até quatro anos ocupam mais espaço.
- Essa é uma decisão de gabinete, tomada sem levar em conta o custo e a viabilidade operacional - explica Maciel, que entende já haver segurança neste serviço em razão da cautela adotada pelos motoristas.
Junto com outras organizações de transporte escolar no país, o Sintepa prepara um documento com essas preocupações para enviar ao Contran.