A culinária saudável vem ocupando um dos espaços onde mais se valoriza e incentiva a gula: as festas infantis. Preocupados em oferecer opções mais nutritivas às crianças, pais e mães promovem substituições e adaptações no cardápio, valorizando a boa alimentação.
Sucos naturais entram no lugar dos refrigerantes, salgadinhos são assados em vez de fritos, e porções de frutas da estação desbancam as doçuras. É um movimento que marca também a vontade de resgatar o sabor de "feito em casa" de outros tempos, que perdeu espaço para itens repletos de corantes e conservantes.
Helena Rodrigues de Andrade celebrou os dois anos da filha, na semana passada, em um almoço que incluiu dois dos pratos preferidos da aniversariante: salada de tomate com folhas verdes e copinhos com banana e morango picados.
- Quis manter mais ou menos o mesmo padrão do dia a dia. A Antônia come horrores de salada, e fruta é a sobremesa diária aqui de casa também - explica a médica oncologista. - É até os dois anos que ensinamos a criança a comer direito. A memória que ela tem de doce, de coisa gostosa, é comer uma laranja e fazer uma cobra com a casca - completa a mãe, que entregou como lembrancinhas um kit com pá, terra e vaso para os pequenos convidados plantarem sementes de manjericão.
Festas de aniversário infantil com cardápio gourmet chegam a custar R$ 200 mil
Empresária do ramo de gastronomia para eventos, Márcia Ceccato Pinto tem procurado incluir bolo de cenoura e pedaços de frutas em casquinha de sorvete no planejamento dos cardápios. Uma das novidades mais recentes são tirinhas de peito de frango empanado e assado.
- Noto certa resistência se o frango fica exposto, não é muito bonito, mas se passa com a garçonete explicando, as mães adoram. Elas estimulam, e os filhos comem - observa Márcia.
Para Luciana Chwartzmann, que promove oficinas, festas e eventos culturais infantis com a casa Lezanfan, a tentativa de tornar as comemorações mais benéficas à saúde ainda é tímida. Ela estima que apenas cerca de 10% de sua clientela esteja começando a pensar nisso.
A empresária estuda a possibilidade de criar um menu sem qualquer ingrediente de origem animal. Serão bolos, sucos, salgados e doces veganos. Luciana sugere que os pais se esforcem para encontrar alternativas nutritivas, servindo de exemplo para os filhos e também para outras famílias.
- Temos uma missão educadora. Os pais podem questionar a doceira: não dá para fazer com menos açúcar ou com açúcar orgânico? Isso tem que partir deles. Se a gente incentivar, as crianças vão ver que existem opções saudáveis - comenta Luciana.
Na Peta Perruge, a proposta é valorizar um modo de preparo artesanal, mantendo os componentes tradicionais de uma festa infantil. Tudo que é servido é produzido no local. Sócia-proprietária, Duca Cupertino percebeu que o suco causou estranhamento no princípio. Hoje, a maioria prefere a bebida natural.
- A tendência é todos tentando se alimentar da melhor forma possível, mas é claro que as porcarias não vão sair da nossa vida. Não tem como. Festa tem que ter negrinho, branquinho, leite condensado - pondera Duca.
A psicopedagoga Deise Cristina Monteiro Lunardi também defende o meio-termo. É importante que a criança seja apresentada a comidas e bebidas mais saudáveis, mas também é interessante que ela possa aproveitar a sua festa ou a dos amigos experimentando guloseimas que não estão sempre à disposição para o livre consumo.
- Tudo que é exagero não é legal: nem a proibição de não comer nunca, nem o outro extremo. É preciso buscar um equilíbrio - recomenda Deise.
Acabou-se o que era doce
Cardápios de festas infantis abrem espaço para alimentação saudável
Pais e organizadores de aniversários começam a tirar o protagonismo de negrinhos, branquinhos e frituras nas celebrações para crianças
Larissa Roso
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project