A retomada do hábito de se cultivar plantas em casa reflete debate sobre ambiente e saúde Confira os vídeos
De fora, é um grande e alto muro de concreto cinza. Da porta para dentro, porém, o verde se torna a cor predominante. É mais fácil perguntar o que não tem na horta da professora aposentada Rosália Costa, 58 anos.
- A terra é muito generosa. Tudo o que eu planto cresce - diz ela, como se seu terreno fosse um exemplo vivo do refrão de Céu, Sol, Sul.
E o amor floresce em forma de abacate, melão, rúcula, alface, laranja, pitanga, pimentão, jalapenho. A diversidade vegetal do jardim de Rosália - até o nome lembra flor - não é fruto de estudos profundos ou de especialização profissional. O plantio é intuitivo, o que não quer dizer irresponsável.
A curiosidade da aposentada em manejar a terra a fez descobrir quais plantas convivem bem entre si, quais precisam de mais sol, quais crescem bem na sombra e que matérias orgânicas funcionam melhor, sem contar o poder de identificar um vegetal apenas pela semente ou pelo tipo de folha.
Rosália compara uma planta em crescimento a uma criança que está sendo alfabetizada.
- A semente chega crua e, depois de um tempo, cria frutos. É como alguém que começa o ano analfabeto e, no fim, aprende a ler. Emocionante - resume.
Na casa do bairro Santa Isabel, em Viamão, nada é jogado fora. Das noites de pizza no fogão a lenha (com ingredientes colhidos da horta, é claro), as cinzas que restam são utilizadas como adubo. As cascas de ovo, em vez de irem para o lixo, vão para a terra preta, substrato dos seus cultivos.
Plantar é, além de um hobby, um exercício de paciência para Rosália.
- Meu pé de jaboticaba demorou 13 anos para dar fruta. Quem lida com plantas compreende melhor o ciclo da natureza - diz a aposentada, que acoplou uma mangueira ao ar condicionado para que a água que sai dele (antes, desperdiçada) goteje sobre a árvore.
Beleza não é fundamental na horta de Rosália. Os temperos plantados na horta suspensa nos fundos de casa crescem desordenadamente, mas no meio da confusão de verdes, ela sempre acha o que quer. E avisa:
- A alface do supermercado pode até ser mais bonita, mas não tem o mesmo sabor que a minha.