Celebrado hoje, dia 28 de julho, o Dia Mundial de Alerta para os Riscos das Hepatites serve como um sinal para os riscos à saúde provocados quando o fígado não trabalha bem. Uma das principais funções do órgão é ajudar na desintoxicação do organismo, metabolizando substâncias nocivas ao corpo. É por isso que a insuficiência hepática aguda, embora uma patologia de ocorrência rara, deve ser prontamente detectada, pois deteriora rapidamente a saúde, tem alta taxa de mortalidade e afeta, principalmente, os mais jovens.
Suas principais causas são a hepatite viral e a administração de medicamentos como o paracetamol e o diclofenaco, entre outros, explica a médica Maria Luisa Yataco, especialista em transplantes de gastroenterologia e hepatologia.
Uma pessoa com insuficiência hepática aguda deve ser encaminhada, rapidamente, a uma unidade de terapia intensiva e, geralmente, é candidata a um transplante de fígado (25% dos casos).
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Tire abaixo as suas dúvidas sobre as hepatites:
No caso da hepatite viral, a insuficiência hepática aguda pode ser causada pelo vírus A, B, C, D ou E, dependendo, em muitos caos, do país em que se apresenta. Nos Estados Unidos, por exemplo, predomina a hepatite B, seguida da A. No Japão, predomina o vírus B (40% dos casos) e, na Índia, o vírus B e o E causam 60% das hepatites que levam à insuficiência hepática aguda. A hepatite viral pode ser causada também por uma reativação do vírus B em pacientes sem doença hepática crônica, devido à quimioterapia ou imunossupressão, ao vírus do herpes simples, varicela ou herpes-zoster, citomegalovírus e outros similares, como o vírus Epstein-Barr e o parvovírus.
A hepatite aguda A é a mais benigna: raramente causa uma insuficiência hepática aguda e tem uma taxa de sobrevivência de 75%, sem necessidade de transplante de fígado, sendo de melhor prognóstico em pacientes mais jovens. A hepatite aguda B é mais severa: apresenta-se só, ainda que em casos excepcionais pode vir acompanhada do vírus D. A sobrevivência do paciente está muito ligada ao transplante de fígado (77%, contra 23% se este não se realiza).
Enquanto isso, a insuficiência hepática aguda, causada pelo vírus herpes, é muito rara e, usualmente, apresenta-se em pacientes com imunossupressão ou em grávidas, no último trimestre da gravidez. Essa hepatite não apresenta icterícia, tem lesões cutâneas somente na metade dos casos e uma biópsia do fígado é muito útil para um diagnóstico correto.
A "hepatite autoimune" pode se apresentar como uma hepatite comum aguda. É mais frequente se há presença do anticorpo LKM-1, que implica também problemas renais, geralmente sem a presença de anticorpos antimúsculo liso. Deve ser feita uma biópsia hepática se houver suspeita de que o caso é de hepatite autoimune.
O que é insuficiência hepática aguda?
É a deterioração rápida da função do fígado, de uma forma súbita e intensa. Manifesta-se como icterícia, o amarelamento da pele e das mucosas, em decorrência do aumento de bilirrubina no organismo. Essa manifestação é seguida de encefalopatia hepática, que é degeneração da função cerebral, devido à incapacidade do fígado de eliminar as toxinas do sangue. Essa última condição se apresenta dias e até semanas depois da presença da icterícia e na ausência de dano hepático prévio.
Quais as suas causas?
A insuficiência hepática aguda pode ser causada por vários fatores. Pode se apresentar como uma consequência de uma hepatite viral aguda ou dose excessiva de paracetamol. A causa também pode ser envenenamento por ingestão de cogumelos não comestíveis, do tipo amanita; por uma hepatite autoimune; nas mulheres, a esteatose hepática ou fígado gorduroso durante a gravidez; ação de agentes químicos; enfermidades como a doença de Wilson ou a síndrome de Budd-Chiari aguda; infiltração neoplásica no fígado (metástase do câncer) e também por causas que a medicina ainda não consegue determinar.
Como é feito o diagnóstico?
Avalia-se o histórico do paciente e os fatores de risco, como contato sexual, gravidez, consumo de drogas como êxtase, metanfetamina, cocaína, cogumelos alucinógenos, narcóticos em geral, exposição a tóxicos, herpes labial e presença de icterícia, viagem recente com pessoas doentes e ingestão de remédios sem controle médico.
Em nível clínico, a presença de anorexia, fezes pálidas, urina escura, náuseas ou vômitos, dor no quadrante superior direito do abdômen. Além disso, um exame físico para determinar se há doença hepática preexistente, icterícia, aumento do tamanho do fígado e, em menores de 40 anos, anéis de Kayser-Fleischer, que indicaria doença de Wilson.
Também se pedem exames de laboratório para medir o tempo de coagulação do sangue, o tipo sanguíneo, gases no sangue e para verificar a presença de drogas, HIV, marcadores de hepatite viral e autoimunidade e teste de gravidez, no caso de mulheres em idade fértil. Qual o futuro dos pacientes com insuficiência hepática aguda?
A meta é identificar os pacientes que podem se beneficiar de um transplante. De acordo com a especialista Maria Luisa, nos Estados Unidos, 45% dos pacientes sobrevivem espontaneamente sem necessidade do transplante. Apenas 25% se submetem a transplante. No caso de insuficiência renal por hepatite A, por intoxicação com paracetamol, isquemia ou efeitos não desejados de uma gravidez, a sobrevivência espontânea é de mais de 50%.
Quando recorrer aos transplantes?
Os transplantes de fígado são uma alternativa bastante importante para o paciente em estado mais grave. Porém, de acordo com Maria Luisa, é preciso detectar rapidamente se o paciente é candidato ou não a esse procedimento. É um caso de urgência e, portanto, o paciente com insuficiência hepática aguda deve ter a primeira prioridade para transplante. Acima de 65% dos transplantados sobrevivem depois do ano da cirurgia. O período crítico é o período dos primeiros três meses, quando ocorre a maior parte das mortes, devido à sépsis ou a complicações neurológicas.