É preciso saber preparar a marmita para o dia seguinte e planejar-se para um cardápio diferenciado a semana inteira
No prédio onde trabalho, há pouca gente que leva o almoço de casa não porque as opções do bairro sejam excelentes (não são) ou porque o refeitório seja no estilo Google (não é), mas sim porque a maioria ou é muito ocupada ou tem vergonha de carregar a própria comida. De alguma forma, uma das tradições mais antigas e sábias virou motivo de riso: a marmita não é descolada.
Vamos tentar acabar com isso.
Em termos de refeição, o almoço é, sem dúvida, complicado; a maioria pensa assim e eu não nego que seja, mas algo de muito bom acontece quando você prepara sua própria marmita.
E nem estou falando da versão clássica de alumínio, não. Há inúmeras opções modernas, inclusive elétricas, como também os obentôs japoneses (na verdade, onde trabalho, quase todos que levam comida parecem mesmo ser asiáticos) ou os famosos recipientes recicláveis de plástico, os meus preferidos.
O segredo para comer salada diariamente sem muito trabalho é lavar os alimentos e deixar estocados em potes de plástico na geladeira
Foto: Andrew Scrivani, TNYTS
Não importa o que tenha dentro. Quando leva seu próprio almoço, você começa a encará-lo como opção principal - e as lanchonetes e restaurantes como quebra-galho, e não o contrário.
É claro que não há mistério algum em montar um sanduíche de queijo e presunto e uma saladinha, acompanhados de uma fruta, criando assim uma refeição mais barata e muitas vezes de melhor qualidade do que as opções da região. Entretanto, poucas pessoas se dispõem a fazer isso hoje em dia, pelo menos entre as pessoas que conheço.
Quem o faz (essa é uma observação e não um estudo) geralmente opta por três possibilidades. Bastõezinhos de cenouras e salsão, maçã, um tomate e uma banana - basicamente coisas que podem ser separadas em dois segundos e consumidas sem culpa.
Sobras. Esse, sem dúvida, é o caminho mais simples e, como quase todo escritório tem micro-ondas, é extremamente prático e saboroso - se bem que, para dar certo, você precisa se segurar no jantar ou cozinhar mais do que o costume sem comer mais, é claro.
Molho de tomate, legumes assados e feijão: três opções básicas que servem para a elaboração de um variado cardápio
Foto: Andrew Scrivani, TNYTS
E tem também o sortimento criativo que exige uma montagem final na hora do consumo e também precisa de micro-ondas. Eu tento variar entre as três opções. Não tenho problema nenhum em empacotar a massa que sobrou na geladeira, o refogado ou qualquer coisa que seja fácil de esquentar. Também me valho do recurso dos crus pelo menos uma vez por semana e normalmente tento (juro que sim) reunir alguns ingredientes separados e esquentar tudo na hora do almoço.
O segredo, como geralmente acontece quando se trata de comer bem, é ter uma despensa bem estocada - e não estou falando só de azeite, vinagre e molho de soja, não, mas sim de latas de sardinha e atum, um pão especial e tomates, ingrediente básico de tantas preparações rápidas.
Estou me referindo também a elementos complementares como molho de tomate, qualquer tipo de grãos, conservas e até um frango assado, pratos que podem ser preparados enquanto você estiver fazendo outra coisa - preparando o jantar, vendo TV ou checando sua caixa postal - e duram vários dias, acrescentando substância, sabor e apelo a outros ingredientes. Se conseguir manter a rotina, vai ver que montar um almoço decente antes de sair de casa além de ser fácil, abre um leque de possibilidades infinitas.
Arroz de micro-ondas com frango e legumes
Foto: Andrew Scrivani, TNYTS
Há pelo menos uma forma bem fácil de encher de sabor até o prato mais sem graça: criando um molho fresco que não exige preparo e tem durabilidade. Você pode preferir o básico vinagrete, mas mesmo aqueles que já foram considerados exóticos - como o que leva molho de soja e gengibre - são fáceis, rápidos e usam ingredientes simples.
As sobras planejadas, ao contrário das ocasionais, são o grande diferencial porque, na verdade, o que dá para fazer com alguns pedaços de frango frito, ou um filé de carne ou peixe ou um pouquinho de legume refogado é criar uma nova refeição - e não há quase nada que não possa ficar na geladeira, devidamente embalado, para ser usado nos próximos três ou quatro dias, mantendo a qualidade e sabor.
É claro que esse é um recurso baseado no preparo: não dá para ter sobras a menos que cozinhe. De certa forma, levar o próprio almoço para o trabalho pode ser encarado como uma forma de aperfeiçoamento, no qual passa a cozinhar com mais eficiência, menos desperdício e mais autonomia, já que a coisa toda se baseia na montagem e não no preparo em si.
Noodles servido frio com legumes crocantes: duas alternativas fáceis de fazer e que podem ser mantidas na geladeira para futuras refeições
Foto: Andrew Scrivani, TNYTS
Se tiver grãos, leguminosas, verduras - cozidas ou cruas e legumes, um ou dois tipos de molho (incluindo, pelo menos de vez em quando, molho de tomate, que pode ser transformado em praticamente tudo), mais os básicos de toda despensa e algumas sobras, o almoço sai em num piscar de olhos.
E, conforme vai se transformando em um ritual, também vira um prazer gratificante (dá até para separar aquela tigelinha favorita, talheres bons e guardanapo de verdade). A monotonia vira coisa do passado, assim como a indecisão sobre onde e o que comer - afinal, você assume o controle. E que os outros riam quanto quiserem.