Se os números demonstram um cenário avassalador para a incidência de câncer - mais de 500 mil novos casos previstos para 2012, segundo o Instituto nacional do Câncer (Inca) -, a boa notícia fica por conta do avanço da medicina para o tratamento da doença. No caso do tumor de laringe, tipo de câncer contra o qual luta o ex-presidente Lula, o tratamento tradicional era a laringectomia total, ou seja, a remoção completa da laringe. No entanto, protocolos de tratamentos que incorporaram a quimioterapia à radioterapia modificaram esse cenário.
De acordo com o médico Fernando Cotait Maluf, chefe da Oncologia Clínica do Centro de Oncologia do Hospital São José, houve avanço no desenvolvimento de drogas quimioterápicas mais eficazes e no modo mais efetivo de combiná-las à radioterapia, sem contar a modernização das técnicas de radioterapia. Estudos recentes demonstram que entre 70 e 80% dos pacientes que passam pelo procedimento têm seu tumor erradicado sem a necessidade de cirurgia.
O oncologista ressalta também os efeitos colaterais intensos provocados por esse tipo associado de terapêutica, como inflamação das mucosas da cavidade oral e da garganta, bem como irritação da pele.
Drogas alvoespecíficas
O empenho para encontrar alternativas não cirúrgicas e manter a preservação da laringe levou pesquisadores a desenvolverem novas drogas, chamadas alvoespecíficas, que têm como missão atacar os mecanismos mais críticos para o crescimento do tumor e seu poder de enviar metástases a outros órgãos.
Para Maluf, o grande avanço na última década, nesse contexto, foi o anticorpo monoclonal cetuximabe, que ataca o receptor do fator de crescimento epidérmico (Epidermal Growth Factor Receptor - EGFR), importante para conter o crescimento, proliferação e poder metastático do câncer de cabeça e pescoço. Além de ser bastante eficaz quando combinado com a radioterapia nos tumores localizados, os efeitos colaterais são mais brandos que aqueles observados com a quimioterapia e a radioterapia. Esse benefício também foi demonstrado quando o cetuximabe foi associado à quimioterapia em pacientes com metástase.
- Hoje, aos pacientes com tumores de cabeça e pescoço, há um horizonte mais esperançoso e otimista do que o vislumbrado no passado, o que permite um maior número de pessoas sejam tratadas de forma completa. É possível curar sem mutilar - comenta o médico.
Estatísticas
Os tumores malignos de cabeça e pescoço correspondem a 6% de todos os tipos de câncer, respondendo por 644 mil novos casos e 352 mil óbitos a cada ano. Comum em pessoas com mais de 40 anos de idade, a manifestação desse tipo de tumor é até três vezes mais recorrente em homens do que em mulheres.
Conforme Maluf, a população masculina sofre mais as consequências do vício do cigarro.
- O tabagismo, além de fazer mal aos pulmões, é a causa de 95% dos casos de câncer de laringe. O álcool não fica longe dos principais fatores de risco para esse tipo de tumor, ainda mais quando associado ao vício do cigarro - alerta.
Fumantes que são também etilistas apresentam risco de 40 a 100 vezes maior de desenvolver um câncer de laringe. A poluição e infecções pelo HPV contribuem para alavancar as estatísticas do câncer de laringe.
Avanço da medicina
Novas drogas permitem tratar câncer de laringe sem cirurgia, diz oncologista
Tratamento tradicional era a remoção completa da laringe
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