Planejando cada etapa
Toda gestante pode ter um plano de parto, que é uma lista de desejos por escrito. No caso de um parto sem complicações, é perfeitamente possível que a equipe médica siga seu plano, que pode ser feito com o obstetra e deve ser levado, impresso, no dia do parto.
- Os casais brasileiros estão percebendo cada vez mais que os médicos e profissionais da saúde bem-intencionados nem sempre têm respaldo científico que sustentem as práticas obstétricas comuns e que muitas dessas práticas são adotadas simplesmente por serem parte de uma tradição médico-hospitalar - afirma Ana Cris Duarte, do site Amigas do Parto.
- O pai ou mesmo a mãe pode ter uma conversa prévia com o neonatologista, com o anestesista, com os enfermeiros. Explicar suas preferências. Mostrar o plano de parto para eles e combinar a possibilidade dele ser respeitado - recomenda a psicóloga e doula Clarissa Khan.
É indicado que seu plano de parto tenha indicações tanto para um trabalho de parto normal, quanto para uma cesariana.
O que pode constar em um plano de parto:
- O local onde você deseja parir: em casa, na casa de parto, no hospital?
- Quem serão seus acompanhantes.
- Desejos como liberdade de caminhar, uso da água no trabalho de parto, liberdade para ingestão de alimentos e bebidas, aparelho de som ligado no momento do parto, luz baixa.
- Infusão intravenosa apenas se houver indicação médica.
- Rompimento espontâneo da bolsa dágua.
- Clampeamento do cordão umbilical apenas depois que ele parar de pulsar, com o corte feito pelo pai.
- Bebê colocado imediatamente no colo da mãe (ou sobre a barriga ou nos seus braços).
- Bebê amamentado assim que possível.
- Tirar fotografias ou filmar o parto.
Pesquise, informe-se e decida!
Conheça importantes pesquisas que fortalecem a corrente do parto humanizado:
- A questão do clampeamento do cordão umbilical
O cordão umbilical é um elo entre mãe e filho de vital importância. É por ele que a placenta faz a troca gasosa com o feto e envia os nutrientes necessários para seu desenvolvimento. Quando a criança nasce, o cordão umbilical, ainda ligado à placenta, continua enviando sangue oxigenado. Dando tempo para que os pulmões do bebê se adaptem às novas condições e realize os movimentos de inspiração e expiração sem pressa. De forma gradativa. Enquanto o cordão umbilical pulsa, ele ainda está fazendo a troca. Levando em consideração estudos que apontavam que o corte tardio do cordão umbilical, e não imediato, reduzia o risco de anemia em crianças (por aumentar a concentração de hemoglobina e ferro no sangue), a pesquisadora e pediatra Sônia Venâncio pesquisou, no ano de 2006, as consequências do corte imediato do cordão umbilical, praticado em grande parte dos partos e apoiado nos seguintes argumentos: ele preveniria a icterícia, a policitemia e a anemia materna.
Sônia analisou 109 casos de cortes imediatos e 115 casos de cortes tardios, investigando a relação do clampeamento do cordão umbilical com a diminuição dos estoques de ferro em bebês com até 6 meses de vida. Os resultados encontrados confirmaram os benefícios do corte tardio por, de fato, aumentar o estoque de ferro. E, desmitificando a antiga crença, não foram verificadas no estudo maior frequência de icterícia, policitemia ou complicações maternas decorrentes do clampeamento tardio do cordão umbilical.
- Deve-se permite que a função pulmonar se estabeleça gradualmente. Para que o bebê possa expelir as secreções com tranquilidade e respirar de maneira mais fisiológica - adverte o obstetra Thomas Gollop.
- Ultrassonografias
Um estudo da pesquisadora Maria do Carmo Leal apontou que muitos filhos de cesarianas eletivas (pré-marcadas) nascem antes do tempo ideal. O motivo seria o fato das ultrassonografias terem uma margem de erro que nem sempre é considerada. Muitas crianças acabam nascendo imaturas, com 35 a 36 semanas (pré termo tardias), quando os médicos achavam que ela tinha 38 semanas.
- O bebê nasce com desconforto respiratório, angústia e, em vez de amadurecer no ventre materno, acaba indo para uma máquina incubadora. E ninguém explica para a mãe, que fica angustiada, o que realmente desencadeou a internação do recém-nascido. Isso é um problema sério. A natureza tem sua sabedoria. O trabalho de parto indica a maturidade da criança, inicia na hora certa - alerta a médica Daphne Rattner.
Fique atento
No documento divulgado pela Organização Mundial de saúde, algumas práticas comuns na condução do parto normal são classificadas, com base em evidências científicas e em debates de profissionais. Separamos as mais populares:
1. Uso rotineiro de enema (lavagem intestinal):
O que diz a OMS: os enemas supostamente estimulam as contrações uterinas e o intestino vazio facilitaria a descida da cabeça do bebê pelo canal vaginal. Também evitaria contaminação. Entretanto, essa é uma prática incômoda que apresenta risco de lesão intestinal.
O que dizem os estudos: dois estudos (Rommey e Gordon, 1981, e Drayton e Rees, 1984) não detectaram efeitos sobre a duração do trabalho de parto ou sobre infecção neonatal ou infecção da incisão de episiotomia.
2. Uso rotineiro de tricotomia (raspagem dos pelos pubianos)
O que diz a OMS: a tricotomia é considerada desnecessária e somente deve ser realizada a pedido da mulher.
O que dizem os estudos: são de 1922 (Johnston e Sidall) e 1965 (Kantor) os estudos que derrubam a tese de que a tricotomia reduziria riscos de infecção e facilitaria a sutura. O uso rotineiro, pode, inclusive aumentar o risco de infecção pelos vírus HIV e da hepatite, tanto para o parteiro quanto para a parturiente.
3. Infusão intravenosa e suspensão da ingestão de líquidos e sólidos
O que diz a OMS: as opiniões sobre a necessidade de nutrição intravenosa durante o parto variam amplamente em todo o mundo. O trabalho de parto requer enorme quantidade de energia. Como não se pode prever sua duração, é preciso repor essas fontes de energia. A restrição severa da ingestão oral de alimentos pode levar à desidratação.
O que dizem os estudos: essa necessidade de energia é normalmente compensada por uma infusão intravenosa de glicose. Estudos que datam de 1980, 1981 e 1982 apontaram que o aumento da glicose acompanhava um aumento nos níveis maternos de insulina, o que pode levar a uma série de complicações, que podem ser evitadas com a simples oferta de líquidos e alimentos leves para a gestante ingerir.
4. Recomendação de que a gestante fique deitada
O que diz a OMS: ficar deitada durante o primeiro estágio do trabalho de parto afeta o fluxo sanguíneo uterino, podendo comprometer o estado fetal.
O que dizem os estudos: para publicações como Ambulation in labour e Upright posture and the efficiency of labor, a posição supina (deitada com a barriga para cima) também reduz a intensidade das contrações, interferindo no progresso do trabalho de parto. Ficar de pé está associado a uma maior intensidade e maior eficiência das contrações.
5. Administração de ociócitos e ruptura mecânica da bolsa dágua
O que diz a OMS: esse é um método de prevenção do trabalho de parto prolongado. Muitas vezes, essas ações são iniciadas de forma tão precoce, mesmo não apresentando nenhum motivo válido para tal.
O que dizem os estudos: um estudo controlado (ODriscoll, 1973) verificou aumento considerável de desacelerações de batimentos cardíacos fetais após a ruptura precoce da bolsa. Quanto à infusão de ocitocina, não existem benefícios comprovados de seu uso. Sua infusão inibe a produção natural da ocitocina e pode deixar o trabalho de parto ainda mais doloroso.
6. Controle da dor por analgesia peridural
O que dia a OMS: a peridural fornece um alívio melhor e mais duradouro da dor que muitos outros métodos. Mas exige condições importantes: o trabalho de parto deve ocorrer em um hospital bem equipado e sobre a constante supervisão de um anestesista. Porém, com seu uso, há uma tendência para que o primeiro estágio do trabalho de parto seja mais longo.
O que dizem os estudos: um estudo americano recente apontou que o número de cesarianas aumentou quando a analgesia peridural foi usada durante o trabalho de parto.
7. Uso liberado da episiotomia
O que diz a OMS: a episiotomia é um corte cirúrgico feito na região do períneo. Ele visa facilitar ou acelerar a saída do bebê e evitar uma laceração de terceiro grau. Porém, uma vez que a incidência de laceração de segundo grau é de cerca de 0,4%, o diagnóstico perde seu significado. Não existem evidências de que seu uso rotineiro seja benéfico.
O que dizem os estudos: o uso liberal da episiotomia está associado a maiores taxas de traumatismo ao períneo. Com ou sem o uso do método, mulheres tiveram um grau comparável de dor perineal avaliada aos 10 dias e 3 meses após o parto.