Por Fernando Goldsztein
Empresário, fundador do www.mbinitiative.org
Acabo de ler o ótimo livro chamado Um Certo Senhor Elbling: uma Saga de Empreendedorismo e Inovação (Bookman, 2017), escrito pelo jornalista e colunista de GZH Eugenio Esber. Trata-se da saga de Joseph Elbling, o Joe, judeu polonês que emigrou, ainda criança, da Polônia para a América. A família dele pressentiu o que estava por vir e conseguiu sair da Europa pouco antes do inicio da Segunda Guerra Mundial. Mais de 6 milhões de judeus europeus não tiveram a mesma sorte...
Tenho uma atração especial pelas histórias dos imigrantes judeus dessa época. Não saíram dos seus países por opção, e sim por uma questão de sobrevivência. Atravessavam o oceano sem dinheiro, sem destino certo e sem falar uma palavra do novo idioma. A coragem, a resiliência e a força de trabalho são características comuns desses seres humanos que, não obstante enfrentarem todos os tipos de adversidade, conseguiam formar suas famílias e ser bem sucedidos nas suas carreiras ou nos seus negócios.
O local escolhido pelos pais do sr. Elbling foi a cidade de Montreal, no Canadá. A grande maioria dos imigrantes, ao chegar no novo país, se estabelecia definitivamente. Não foi o caso de Elbling. Sua inquietação e disposição para buscar novos desafios o levou a muitos lugares. Além do Canadá, onde formou-se em Engenharia Elétrica, trabalhou na Inglaterra, no Brasil, na Itália, em Israel e nos Estados Unidos, antes de retornar ao Brasil e fundar a sua própria empresa.
O livro detalha a trajetória desse engenheiro apaixonado pela mecânica de precisão. Dotado de um grande senso de otimismo e autoconfiança, ele era movido por desafios técnicos. Parecia ter nascido para inventar soluções para quaisquer tipo de problema. Desde muito cedo, ainda recém saído da universidade em 1951, ele percebeu que a eletrônica logo dominaria o mundo das máquinas e sonhou em não perder essa onda. Aliás, Elbling era um sonhador, ou melhor, um visionário. Como relatado no livro, “ele tinha a capacidade de seduzir tecnicamente. Ele sabia como fazer você sonhar junto com ele e, de repente, os sonhos dele se tornavam os seus sonhos…”.
Foram muitas as experiências que forjaram este homem desde a mais tenra idade. Uma das mais impactantes foi a sua mãe tê-lo jogado no rio para que aprendesse a nadar. “Joe, ou você nada ou afunda”, disse ela. Ao longo da sua dura vida de imigrante, teve de ganhar a vida consertando canetas tinteiro e isqueiros, fazendo entrega de pacotes de cigarro e várias outras atividades. Como retratado no livro, “a experiência de trabalhar por cada centavo e investigar cada oportunidade foi a marca deixada nele por aqueles anos difíceis”.
E foi em 1977, já com 49 anos, que Elbling resolveu criar o seu próprio negócio. O local escolhido foi a cidade de Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Além de já ter trabalhado nos trópicos e ter sido casado com uma brasileira, ele vislumbrou as oportunidades e os incentivos existentes no Brasil daquela época. Hoje, o grupo composto pelas empresas Digicon e Perto desenvolve tecnologias para as mais diversas áreas da indústria e comércio.
Atuantes em múltiplos mercados como transporte público, controles de acesso, automação de estacionamentos, controladores de tráfego viário, automação bancária e até componentes aeronáuticos e para satélites, as indústrias fundadas por Elbling empregam milhares de pessoas e são reconhecidas como das mais inovadoras do país. E, ainda, em 2016 a Digicon inaugurou uma fábrica em Jaipur, na Índia, país que já em 2023 deve ter a maior população do planeta.
É impressionante a história desse polonês apaixonado pela engenharia. Para ele, a inovação deveria ser estimulada e protegida. Dizia que é fácil desconsiderar novas ideias. Normalmente, ao depararem com sugestões inovadoras, as pessoas logo pensam de forma pragmática e cética. Pensam que, se fosse realmente uma boa ideia, outras empresas, maiores ou mais ricas, já as teriam colocado em prática. Já para Joe Elbling, a primeira resposta a qualquer desafio ou ideia sempre começava com um firme e instigante:
– E por que não?