Conhecida como a guardiã do Theatro São Pedro, Eva Sopher morreu nesta quarta-feira (7), aos 94 anos, em Porto Alegre. Dona Eva, como era carinhosamente chamada, estava no Hospital Moinhos de Vento, onde foi internada após uma crise respiratória. Ela veio a falecer por volta das 19h.
Dona Eva esteve à frente do Theatro São Pedro durante 41 anos. Assumiu em 1975, para comandar a reforma do prédio, e lá permaneceu, passando por governos dos mais diferentes matizes políticos. Para alguns agentes culturais, Eva foi a pessoa mais importante do setor.
A seguir, leia mais depoimentos sobre o legado de Dona Eva:
Luciano Alabarse, secretário municipal da Cultura
"Dona Eva nos deixa um legado gigantesco. Foi provavelmente a pessoa mais importante da cultura do Rio Grande do Sul. Foi um exemplo admirável de persistência pelo amor pela arte, um exemplo a ser seguido por todos nós que trabalhamos com cultura. Foi uma pessoa que iluminou Porto Alegre e com sua força nos levou a sermos quem somos. Foi uma pessoa extraordinária com uma obra extraordinária."
Luiz Paulo Vasconcellos, ator e diretor
"Foi uma das pessoas mais importantes da cultura de Porto Alegre. Ela reconstruiu o pensamento da cultura da Capital. Uma mulher brilhante, tanto no aspecto de pensamento quanto de investimento. Ela amava a cultura, amava o teatro, amava música, amava todas as manifestações. Tinha um despojamento e uma ideia, ela perseguia uma ideia que era definitiva da arte no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre e no Brasil."
Zé Adão Barbosa, ator e diretor
"Era uma pessoa de uma importância não só para a cultura, mas para todos nós como uma amiga. Sabia-se que estava numa idade avançada, mas a sensação que se tinha era de que ela nunca iria morrer, pois era uma mulher iluminada e incansável. Foi uma mulher que construiu um teatro. Só quem conheceu os escombros do São Pedro sabe o que a Dona Eva fez, o que ela lutou. Era uma mulher de muita força. É uma perda irreparável."
Susana Espíndola, jornalista que trabalhou durante 20 anos com Dona Eva
Os únicos seres que não gostavam da Dona Eva neste mundo são os cupins. Ao restaurar o nosso velho Theatro São Pedro, ela os desalojou e lhes tirou o mais saboroso dos pratos, a mais rica alimentação: madeiras, gessos e estruturas que mais pareciam esponjas, esburacados diante do que haviam sido originalmente. Acho que hoje até mesmo os cupins farão silêncio e reverência a esta memória. Em algum lugar no paraíso, atores, maestros, músicos e plateias inteiras devem estar batendo palmas para recebê-la. Para quem nunca descansou por estas bandas, há multitarefas a realizar em um multipalco infinito.
André Damasceno, humorista
"Estou muito triste com o falecimento da Dona Eva Sopher. Ela sempre teve uma sensibilidade superior. Muita garra, muita competência e principalmente muita dedicação ao teatro e à arte gaúcha. Fiz inúmeras temporadas no nosso querido Theatro São Pedro e sempre fui recebido com muito carinho por ela. Acho que o Rio Grande do Sul deveria fazer uma grande homenagem para ela. Colocar o nome 'Multipalco Dona Eva Sopher' e uma estátua dela na entrada do teatro."
Hique Gomez, músico
"Ela elevou o nível cultural da cidade de uma maneira que não temos como contabilizar ainda, só nos anos vindouros. Dona Eva imprimiu na nossa cidade a vivência de cultura dela na Alemanha. É muito querida no mundo artístico no país todo, do Acre ao Chuí. As pessoas a conhecem muito pelo Theatro São Pedro, mas agora nos próximos anos vão dar muito mais valor ao legado dela por causa do Multipalco. Isso aí é pra muitas gerações futuras."
Jair Kobe, humorista
"Eu tive o privilégio de conviver muitos anos com a Dona Eva, pois desde 2011 eu faço temporada com ela no Theatro São Pedro em abril. Sempre percebi a gentileza dela de tratar os artistas e equipe, e todos tinham muito carinho com ela. Durante esses anos, tive a oportunidade de tê-la no palco. Ela participou uma vez do meu espetáculo como avó do Licurgo. Nós preparamos um camarim super bonito com rosas. Dona Eva teve um dia de artista, e se sentiu super prestigiada. Ela cuidou figurino, botou peruca e fez uma participação muito bacana. O Theatro São Pedro é a Dona Eva por tudo que ela fez."
Paulo Betti, ator
"O São Pedro certamente é um dos teatro mais bonitos do Brasil, mas ele tem uma coisa especial: é o melhor camarim. É onde os atores são mais felizes, onde éramos melhores recebidos. Havia uma demostração clara e inequívoca de amor por parte da Dona Eva com os artistas. Nenhuma ator jamais podia reclamar do Theatro São Pedro, pois a Dona Eva cuidava do quarto dos atores, tinha essa sensibilidade. A figura dela se sobressai no grande amor que ela tinha pelos artistas, e era um amor correspondido. Ela será eterna. É literalmente a alma do Theatro São Pedro."
Evandro Matté, diretor artístico e maestro da Ospa
"Além da recuperação do Theatro São Pedro em um momento muito crítico, o maior legado que Dona Eva deixa é a sua paixão, que contagiou gerações. Ela tinha um grande amor pela cultura, por fazer cultura e por fazer que a cultura se desenvolvesse aqui."