A escolha do jornalista Marcelo Rezende de desistir do tratamento convencional na luta o contra câncer de pâncreas que o levou à morte neste sábado (16) reacendeu a discussão sobre a busca de meios alternativos para combater a doença. A polêmica foi ainda realimentada nas redes sociais por um tuite do músico gaúcho Esteban Tavares, ex-Fresno: "Marcelo Rezende embalou negando a medicina e acreditando na cura divina", escreveu.
Apresentador de programas como Linha Direta, da Globo, no fim da década de 1990, e Cidade Alerta, na Record, última emissora, Rezende descobriu o câncer em maio, em um estágio já avançado. Começou a fazer quimioterapia, mas desistiu. Em um de seus vídeos sobre a sua batalha postados em redes sociais, reclamava que "as drogas que me aplicam mais parecem que vão me matar do que me salvar". Optou por retiros espirituais e um tratamento alternativo baseado na alimentação, com uma dieta composta por proteínas e gorduras, sem carboidratos.
Especialistas consultados por Zero Hora ressaltam que, apesar da necessidade de respeitar a escolha do paciente, as estatísticas mostram que a fuga de tratamentos convencionais, em regra, não leva a resultados promissores. O médico oncologista Stephen Doral Stefani, do Hospital do Câncer Mãe de Deus, ressalta que, nos casos de câncer, a chance de morte no curto prazo é 2,5 vezes maior quando há a tentativa de buscar saídas apenas fora da ciência.
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— Estatisticamente falando, em casos como o dele, os pacientes poderiam viver muito mais e melhor — diz Stefani.
Para o oncologista, a despeito de a escolha do paciente dever ser respeitada, a decisão precisa ser feita após o médico prestar todas as informações científicas, para a posição ser consciente. Stefani avalia que o caso de Rezende, pelo pouco tempo de vida após descobrir a doença, vai desencorajar pessoas a arriscarem tratamentos alternativos.
O professor de oncologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Gilberto Schwartsmann faz advertência semelhante:
— Tratamentos fora da ciência, em princípio, trazem maus resultados. Historicamente, os grandes avanços da humanidade partiram de observações científicas que depois foram comprovadas — lembra.
Mesmo assim, escolhas como a de Rezende precisam ser de certa forma compreendidas, observa o médico:
— Não podemos ter a pretensão de impedir as pessoas de fazerem as suas próprias escolhas. É preciso se colocar no lugar do outro e entender seu desespero e insegurança.
Schwartsmann, no entanto, pondera: a procura por apoio fora do tratamento convencional deve ser aceita desde que não seja algo prejudicial ao paciente.