Um ano atípico, marcado por incertezas, a cadeia automotiva teve leve recuperação em 2021. O setor acompanhou as dificuldades da economia brasileira com a desvalorização do real, o crescimento da inflação, o aumento dos juros e os reflexos da pandemia do coronavirus. A instabilidade foi agravada pela falta de componentes e as linhas de montagem desaceleraram e até pararem como aconteceu com diversas marcas. Cerca de 300 mil carros deixaram se ser produzidos e, como consequência, com a falta dos novos valorizou os usados.
A produção de 2,248 milhões de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus cresceu 11,6% na comparação com 2020. Foi o melhor resultado desde 2013. No ranking global, o Brasil – que já foi o quarto maior produtor em 2014 e caiu para oitavo em 2016, voltou à posição perdida em 2020 para a Espanha. Foram produzidos 158,8 mil caminhões, mais 74,6% e 18,9 mil ônibus, mais 2,6% na comparação com 2020, o melhor resultado desde 2013.
A venda de 2,12 milhões de veículos cresceu 3% na comparação com 2020.
O melhor resultado foi do segmento de caminhões e ônibus com 128,7 mil unidades, mais 43,5% em relação ao ano anterior.
Com o boom do agronegócio, o registro de picapes cresceu 25,1% e o de furgões 22,8%.O país manteve a sétima colocação entre os mercados globais atrás da França.
Exportação e mercados globais
O crescimento poderia ser ainda melhor porque a nossa carga tributária é absurdamente alta. Nós entendemos que a tributação do IPI é absurda e, se a gente o eliminasse, isso seria uma alavanca para trabalharmos no setor
LUIZ CARLOS MORAES
Presidente da Anfavea
A recuperação após o pico da pandemia em mercados como Chile, Colômbia, Peru e Uruguai ajudou as exportações de veículos brasileiros. Foram enbarcados 376,4 mil unidades, mais16% sobre o ano anterior, mas ainda muito longe dos 629 mil veículos de 2018. Em valores foram US$ 7,6 bilhões, mais 37,8% sobre 2020, mas também distante dos US$ 11,1 bilhões de 2018. Resultado obtido pelo embarque de veículos de maior valor agregado, como caminhões e utilitários esportivos.
Baixo estoque
Para o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotor (Anfavea), Luis Carlos Moraes, os resultados da exportação poderiam ser melhores, mas as restrições impostas pela pandemia em alguns mercados ainda estão influenciando. O executivo também destacou os problemas com créditos tributários e que os números, apesar de bons, ainda estão muito abaixo do que a indústria pode fazer.
O estoque de 114,3 mil unidades correspondeu a 16 dias. Moraes lembrou que antes da pandemia o estoque era de 42 ias e, durante o pico do coronavirus, chegou a 128 dias. A redução ocorreu pelas dificuldades na produção causadas pela falta de componentes, em especial semicondutores e o aumento do preço das matérias primas.
Eleições e 2022
Apesar das turbulências econômicas e do ano eleitoral, apostamos numa recuperação de todos os indicadores da indústria, que poderiam ser ainda melhores se houvesse um ambiente de negócios mais favorável e uma reestruturação tributária sobre os produtos industrializados
LUIZ CARLOS MORAES
Presidente Anfavea
As projeções da Anfavea para 2022 foram tímidas. A expectativa de aumento na produção é de 9,4%, com 2,46 milhões de unidades.
A venda crescerá 8,5% com 2,3 milhões de registros.
A exportação, que teve o melhor desempenho em 2021, neste ano deverá crescer apenas 3,6% com o embarque de 390 mil unidades.
Moraes atribuiu a estimativa aos desafios que serão enfrentados durante o ano como as eleições, o equilíbrio fiscal, a fragilidade do mercado de trabalho e a extensão da crise sanitária com o avanço da ômicron. Também destacou o aumento dos custos, a elevada carga tributário e os juros.
Alta carga tributária
O presidente da Anfavea criticou a situação tributária brasileira defendendo o fim do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) e a criação do Imposto sobre Valor Agregado (IVA). Lembrou que no Brasil os impostos chegam de 40 a 50% enquanto na maioria dos países do mundo não passam de 25%.