O desenvolvimento da tecnologia de célula de combustível que utiliza etanol para gerar energia e alimentar as baterias de um carro elétrico será acelerado. A Nissan anunciou na segunda-feira (14) a renovação do convênio com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) para a continuidade do projeto de veículo elétrico equipado com célula de combustível de etanol. A autonomia fica em torno de 600 quilômetros e, além do etanol, o sistema também poderá ser usar gás natural e biogás.
Reação química
O trabalho conjunto das engenharias brasileira e japonesa da Nissan com o Ipen desenvolve tecnologia para que veículos elétricos utilizem a Célula de Combustível de Óxido Sólido (SOFC), que gera energia elétrica a partir da utilização do etanol.
O sistema produz energia elétrica por meio de reação química utilizando etanol e elimina a necessidade de recarga das baterias do carro por fonte externa em pontos especiais ou tomadas residenciais.
O etanol passa por um equipamento, o reformador, que extrai o hidrogênio que será combinado com o oxigênio do ar na célula de combustível. A reação química gera a eletricidade que alimenta o motor elétrico.
O sistema SOFC utiliza bateria menor em relação às dos atuais carros elétricos convencionais. O etanol utilizado na reação química fica no tanque normal do carro, que pode ser abastecido nos postos de combustíveis existentes em todo o país.
Tecnologia avançada
Presidente da Nissan Mercosul e diretor geral da Nissan Brasil, Airton Cousseau destaca que não existirá problema de recarga porque a infraestrutura já está criada, sendo a mesma utilizada para os veículos atuais que rodam no país.
— É uma tecnologia impressionante que vai ajudar não só a Nissan em nível global, mas também o Brasil, já que é o maior produtor mundial de etanol — disse Cousseau, durante apresentação do projeto à imprensa, que contou também com a participação do superintendente do Ipen, Wilson Calvo.
Água e etanol
O desafio do projeto da célula de etanol é fazer a tecnologia comercialmente viável. O anúncio da nova fase contou também com a presença do presidente do Ipen. Calvo lembrou que a primeira fase do projeto foi desenvolvida em 2019, complementado estudos feitos pela Nissan. Os primeiros testes foram feitos pela montadora em 2016 e 2017, com dois protótipos que rodaram no país e foram abastecidos em postos de combustível com etanol.
Se pudermos ter condições de exportar essa tecnologia, seria sensacional, pois mercado existe
AIRTON COSSEAU
Presidente da Nissan Mercosul e diretor geral da marca no Brasil
Os protótipos, a van elétrica e-NV200, que integra a gama de veículos Nissan vendidos no Japão, foi equipada com o módulo SOFC. Nos testes, a tecnologia respondeu bem ao etanol brasileiro ao rodar pelo país.
Com o tanque de 60 litros abastecido com partes iguais de 50% de etanol e água, a autonomia dos dois protótipos superou 600 quilômetros.
Próximos passos
Os testes continuam em desenvolvimento pela Nissan no Japão, e os novos desafios começam pela redução do tamanho do sistema, integração do reformador à célula de combustível, a viabilização em escala comercial e a redução do custo dos veículos.
O desenvolvimento da tecnologia deverá estar concluído por volta de 2025. O gerente de engenharia da Nissan Brasil, Ricardo Abe, estima que depois, em menos de cinco anos, deverão rodar os primeiros veículos com a célula de combustível de etanol.
Eletrificar o etanol, um combustível renovável e estratégico para o país, tem um enorme potencial no contexto das novas energias sustentáveis
FABIO CORAL FONSECA
Pesquisador do Ipen/CNEN
Como um dos principais produtores de etanol no mundo, o Brasil tem participação fundamental para o desenvolvimento de carros elétricos que utilizem a tecnologia SOFC de combustíveis alternativos. Além do Brasil, a tecnologia deverá ser usada em outros mercados, pois o sistema permite o uso de outros tipos de combustível para gerar o hidrogênio, como o gás natural e o biogás.
Cousseau lembrou que a tecnologia será vantajosa nos Estados Unidos, que têm o E85 de etanol de milho (85% álcool e 15% gasolina), sendo hoje o segundo maior mercado do mundo em eletrificação, ou a China, onde um dos principais combustíveis para veículos é o gás natural.