Embora a Kombi seja um dos carros clássicos mais famosos no Brasil, não é incomum encontrar relatos recentes de fogo ou até explosões nos veículos. O primeiro modelo foi lançado no país em 2 de setembro de 1957 pela primeira fábrica da Volkswagen fora da Alemanha, que ficava na cidade paulista de São Bernardo do Campo.
Mesmo após mais de 60 anos desde o seu lançamento, o automóvel ainda é bastante popular. Uma pesquisa de 2017 da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP) apontava que a Kombi era o carro clássico que mais foi valorizado na última década, com valorização de 135% acima da taxa básica de juros (Selic).
Mesmo sendo um forte representante no mercado de automóveis, os relatos de kombis pegando fogo ou até explodindo causam dúvidas. GZH foi atrás das respostas sobre as possíveis causas, e entrevistou o mecânico Enio Machado, que trabalha na oficina mecânica CIA do Fusca.
Principais causas de incêndio em kombis
Existem cinco principais motivos que podem fazer com que as kombis incendeiem. Confira quais são:
1. Projeto do veículo
A Kombinationsfahrzeug (veículo multi-uso, em alemão), conhecida popularmente como Kombi, foi projetada na década de 1940 pelo holandês Ben Pon como um automóvel de transporte de cargas. O projeto mecânico desse veículo foi baseado no Fusca, outro clássico da Volkswagen e que foi lançado no Brasil em 1959.
Desde o início, os projetistas tiveram algumas dificuldades devido à fragilidade do projeto da Kombi e aos poucos recursos tecnológicos da época.
Para o mecânico Enio Machado, a causa dos incêndios em Kombis cujos modelos são mais antigos pode ter relação justamente com esse projeto do veículo.
— Cabe lembrar que naquela época os projetos eram feitos sem o uso de computadores ou até mesmo de testes exaustivos em busca de falhas e defeitos. Conforme surgiam os defeitos, surgiam as melhorias — destacou o dono da oficina CIA do Fusca.
2. Posição do tanque de combustível
Normalmente, o tanque de combustível dos automóveis fica localizado distante do motor. No entanto, nos modelos mas antigos de Kombi, eles ficam bem próximos um do outro. Com isso, nesse tipo de carro, a gasolina fica armazenada praticamente junto ao tanque.
Devido ao movimento da carroceria, o tubo por onde o combustível passa pode sofrer trincas e como o bocal de abastecimento da Kombi fica logo acima do motor, a gasolina acaba vazando sobre as partes quentes do propulsor, o que pode causar o incêndio no carro.
— Logicamente que essa posição do tanque não é das melhores pois existe também a questão da ferrugem que com o tempo pode causar vazamentos de combustível — acrescentou o mecânico Enio.
3. Mangueiras ressecadas
As mangueiras dos veículos são componentes muito importantes porque transportam água, ar e combustível. Seus desgastes ou ressecamentos podem gerar problemas ao veículo, como incêndios e explosões.
— O ponto chave do risco de incêndio está diretamente ligada as mangueiras ressecadas e a falta do uso de braçadeiras que impedem que a mangueira escape, fazendo assim com que o combustível entre contato diretamente com o distribuidor (peça que produz a faísca de ignição e que fica ao lado da bomba de combustível) — explicou Machado.
Como no caso das Kombis o compartimento onde fica o motor e o tanque de combustível ficam próximos, quando há uma elevação na temperatura do conjunto e a mangueira não está em condições ideais, pode haver risco de incêndio.
4. Falta de revisão automotiva
Os mecânicos recomendam que os motoristas realizem a cada 10 mil quilômetros rodados ou a cada seis meses uma revisão automotiva. Isso permite que esses profissionais consigam encontrar problemas nos carros e consertá-los a tempo.
Conforme dados divulgados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), no Brasil, somente em 2022, 1,7 mil acidentes foram causados por falta de manutenção nos carros.
Para Enio, os incêndios em Kombis ocorrem, principalmente, devido à falta de manutenção e revisão periódica no automóvel.
— No Brasil, talvez até pelo baixo poder aquisitivo ou até mesmo a cultura de só consertar o carro quando ele quebra, isso pode ser a maior causa dos incêndios — opinou o mecânico.
Novos modelos de kombis
Nos modelos mais recentes de Kombis, lançados a partir de 2006, é mais difícil que ocorra incêndio ou explosão devido às melhorias e avanços tecnológicos. Veja quais são as principais mudanças:
- Localização da bomba de combustível: nos novos modelos, a bomba de combustível está localizada dentro do tanque, e não ao lado dele, como nas versões anteriores.
- Mangueiras de alta pressão: o uso de mangueiras de combustível deste tipo diminui o risco de vazamento do combustível.
- Motor refrigerado: nos novos modelos, o motor 1.4 refrigerado a água ajuda a evitar o superaquecimento do veículo.
- Sistema de injeção eletrônica: nesse tipo de sistema, o combustível é injetado diretamente nos cilindros de combustão do motor.
Benefícios da kombi
Apesar dos riscos de incêndio em modelos antigos, a Kombi continua sendo um dos veículos mais populares. Um levantamento realizado em 2022 pela Cortex, especializada em inteligência de venda de veículos para empresas, indicou que esse tipo de carro é o preferido das empresas brasileiras, devido ao potencial do carro de carregar até 1053 quilos de carga útil.
Além de ser uma boa opção para o transporte de carga, a Kombi também pode ser uma alternativa para viagens, por ser espaçosa. Sua altura chega 2,04 metros e a sua largura é de 1,72 metros.
— Hoje casais ou até mesmo motoristas solitários, buscam na Kombi um veículo ideal para se rodar e curtir como sendo uma casa sobre rodas, sem os luxos de um motorhome, mas com o aconchego de um espaço onde se pode dormir, cozinhar e carregar consigo o que for realmente necessário para encarar uma aventura— destacou Machado.
Para o mecânico, além dos benefícios de ser espaçosa e de poder carregar uma grande quantidade de cargas, outro motivo para que a Kombi continue sendo tão popular se deve à memória afetiva de quem já a teve ou daqueles que a herdaram de seus familiares.
— Não haverá outro veículo que tenha o mesmo charme e praticidade da Kombi, que assim como o fusca, cativa seus admiradores pela simplicidade e pela memória afetiva recente — destacou o mecânico.