Numa época em que faltam boas notícias na indústria automotiva, uma SUV francesa vive momentos de euforia. Entre janeiro e fevereiro, as vendas do Peugeot 2008 subiram 34% no país e o veículo figura agora na sexta posição do segmento. Aparentemente, isso ocorreu por três motivos básicos.
O primeiro veio em janeiro, com a vitória do 2008 no Rali Dakar – é bem verdade que o veículo conduzido pelo francês Stéphane Peterhansel é muito diferente dos vendidos na concessionária. A segunda razão teria sido uma promoção da fábrica, que em fevereiro baixou os preços em pelo menos 15%. Mas o principal empurrão nas vendas, ao menos para a montadora, é que os brasileiros estão descobrindo as qualidades desse veículo confortável, potente e durável.
No mês passado, o 2008 deixou para trás concorrentes bem mais expressivos do mercado, como os Hyundai iX35 e Tucson. Foram 793 modelos 2008 emplacados no mês, contra 780 do Tucson e 730 do iX35. No acumulado do ano, porém, as SUV sul-coreanas ainda levam vantagem, com 1.472 (iX35) e 1.426 (Tucson) contra 1.383. O carro da Peugeot aparece na sexta colocação no mês na oitava do ano. Líderes da categoria, o Honda HRV (8.994 ) e o Jeep Renegade 8.954 não são ameaçados por Ford Ecosport (3.804), Renault Duster (3.042) e GM Tracker (1.978).
Em Porto Alegre, somando-se as duas concessionárias da marca, este ano foram vendidos pelo menos 50 unidades e, até a semana passada, para comprar um, era preciso esperar ao menos 10 dias para a chegada de novos carros. Oficialmente, a Fenabrave encaixa o 2008 no segmento SUV, mas o veículo está muito mais para um crossover - ou seja, as antigas peruas, mas bastante modernizada.
Motor excelente
Classificações à parte, o veículo tem bons motivos para ver as vendas aumentarem. O principal é o motor. Comparando-se o THP 1.6 turbo aos demais, fica bem claro que o veículo sobra na turma. Além dos 173cv (167 a gasolina) e 24,5 kgf.m de torque, o propulsor bicombustível está longe de ser barulhento. Garante ao veículo de 1.231kg uma condução esportiva e possibilidade de ultrapassagens segura nas estradas. Para quem quer engatar um reboque, força não falta ao 2008.
Mas, na versão top, a Griffe THP, a fábrica só disponibiliza câmbio manual, de seis marchas. Quem não abre mão de câmbio automático terá de optar pelo motor 1.6 aspirado, com 122cv (115cv a gasolina), 16,4 kgf.m de torque e quatro marchas. Não se trata apenas de perder potência. Em comparação com o THP, esse propulsor também apresenta pior resultado nos quesitos economia e vibração. A versão com motor turbinado é cerca de R$ 4 mil mais cara. O investimento compensa, e provavelmente também na hora da revenda.
FICHA TÉCNICA
Motor: 1.6 THP, turbo, com injeção direta e 173cv (165 a gasolina) e 24,5 kgf.m A velocidade máxima anunciada é de 209km/h (de 0 a 100km/h em 8,1s). O modelo 1.6 aspirado tem 122cv.
Câmbio: Sequencial de seis marchas – nessa configuração, não há opção de automático (com quatro marchas). A tração é dianteira, mas há controles eletrônicos para neve e off-road.
Dimensões: 4.159mm (comprimento) x 1.739mm (largura) x 1.583mm (altura) x 2.542 (entre-eixos) x 200mm (do solo).
Porta-malas e tanque: 402 litros e 55 litros
Suspensões: Na dianteira, pseudo McPherson, independente, molas helicoidais, amortecedores à gás e barra estabilizadora; na traseira, travessa deformável, molas helicoidais, amortecedores à gás e barra estabilizadora
Freios: discos ventilados na dianteira e secos na traseira.
Rodas: 16 polegas, com pneus 205/60
Peso seco: 1.231kg
Direção: elétrica com assistência variável
Preço: versão top, cerca de R$ 80 mil. A de entrada, cerca de R$ 69,9 mil
O QUE DIZEM OS COMPRADORES
Zero Hora ouviu duas mulheres e um homem que, este ano, adquiriram um modelo 2008, cada um de uma versão. Confira as impressões deles:
Em fevereiro, o técnico em computação Eduardo Trein Jaeger, 60 anos, fez uma série de testes para trocar sua Palio Adventure. Rodou em vários veículos e, quando trafegou com o 2008, não teve dúvidas: era o que buscava. – De cara, duas coisas me chamaram a atenção: a qualidade do interior, incluindo tecnologia e acabamento, dão de dez a zero nos outros que testei. E o motor, absurdamente forte – elogia, ao seu estilo, o dono de um Griffe THP, a versão top. Morador de Rainha do Mar, no Litoral Norte, todos os dias ele pega a freeway para trabalhar em Porto Alegre. O consumo, para ele, é satisfatório. – Coloco no piloto automático para vir a 110km/h e faço 14,7km/l. A meu ver, está bom. Eduardo não reclama do câmbio manual. Ao contrário: mesmo que a versão oferecesse um, não aceitaria. – Cheguei a pensar em trocar, mas gosto de câmbio manual, ainda mais quando a gente quer dar uma tocada um pouco mais esportiva. Além disso, esse câmbio é bem justo, como eu gosto. Na relação custo-benefício, eu não poderia estar mais contente – analisa o proprietário, que gastou cerca de R$ 80 mil no carro. Como pontos positivos, ele enaltece ainda o teto panorâmico e o espaço do porta-malas. Pontos negativos? Visivelmente apaixonado pela nova aquisição, Eduardo não encontrou.
Uma gostou. A outra, nem tanto
A empresária Eliana Camejo decidiu trocar, em janeiro, seu sedã grande por “uma proposta diferente”. Acabou optando por um 2008 Griffe automático, com motos aspirado. Adorou o consumo (14,9km/l na estrada) e das várias utilidades do carro, mas conta que não está totalmente feliz. – Acho que o câmbio tinha de ter seis marchas, não quatro. O carro é menor que a gente imagina quando vê, o porta-malas não é tão grande – analisa. O veículo custou cerca de R$ 75 mil, mais impostos. Eliana conta que, normalmente, os passageiros do carro são apenas ela, o marido e o cachorro. Reconhece que se acostumou com carro grande: – Vai ver, é por isso que também achei o banco traseiro pequeno. Já a engenheira civil Monica, que pediu para não ter o sobrenome publicado, dona de um Allure 1.6, o modelo de entrada, está maravilhada com o carro, comprado em janeiro. – Funciona muito bem o ar-condicionado, com duas zonas, a posição para dirigir é ótima, o kit multimídia com GPS é perfeito. Estou realmente muito feliz – conta a proprietária, que tinha outra SUV. Os 122cv do modelo aspirado e o câmbio mecânico, para ela, são mais do que suficientes. Ela conta que testou ao menos outros dois modelos, mas optou pelo veículo francês. Sobre o consumo, ela reconhece: – Nunca medi, não faço a menor ideia. O veículo custou R$ 69 mil (mais cerca de R$ 3 mil de impostos) e o seguro obrigatório saiu por R$ 2,2 mil – o valor pode superar os R$ 2,7 mil, dependendo do perfil do proprietário.
Famosos por alguns invencionismos, os franceses criaram uma alavanca bastante diferente para o freio de mão. Mas não deixaram de lado requintes que dão prazer a quem dirige, como as pedaleiras cromadas, inclusive no descanso para a perna esquerda da versão com câmbio manual.
Na parte interna, o volante poderia ter sido trocado – o visual está cansado. No mais, o carro dá um show de ergonomia e requinte.