O que está sendo feito com a Copa América é um ultraje à mais antiga competição entre seleções do mundo. Tratá-la como um evento mambembe que, não podendo sair num local, recorre ao sócio que desiste, e o vizinho assume a realização, é pura vulgarização em nome do dinheiro e da ganância de uma entidade chamada Conmebol. Este cenário já seria ridículo, mas por trás está um contorno trágico, pois toda esta lambança ocorre em meio a uma pandemia, e o país que acolhe a disputa está no pódio das mortes mundo afora.
Se é condenável o Brasil trazer a Copa América para seu território numa manobra política que pode ter riscos sanitários, deixemos de lado as ações das autoridades nacionais e seus conceitos sobre a pandemia. A partir do que já se viu, o que aconteceu não merece nenhuma expressão de surpresa.
O problema maior está na origem, na Confederação Sul-Americana de Futebol, que não cogitou cancelar a disputa quando a Colômbia desistiu e não definiu pelo adiamento definitivo ao receber a negativa da Argentina. A insana procura por uma nova sede foi como quando animais desesperados e famintos saem em busca de comida.
A confusa história que já tem a Copa América 2020 ou 2021, como queiram, apenas mostra que as mudanças diretivas por força de escândalos de corrupção na Confederação Sul-Americana não mudaram muito a dignidade e a índole da entidade. O que vale é o dinheiro, o futebol que se lixe.
Assim acontece nas outras competições em que, por exemplo, para não gastar verdadeiras migalhas no orçamento da Conmebol, se sonega a utilização de árbitros de vídeo nas primeiras fases de Libertadores e Copa Sul-Americana. Talvez isto faça parte de uma estratégia que crie mais situações confusas em campo para gerar mais cartões amarelos e vermelhos, o que se traduz em multas.
A realidade podre que foi desvendada pelas investigações da Interpol em relação à confederação e algumas de suas afiliadas não sofreu a devida purificação — e talvez nunca sofra. É um misto de ganância extrema com incompetência, vistas as condições dos estádios que são utilizados em muitas competições, ou o ridículo sistema de comunicação e entrevistas durante jogos de eliminatórias, Libertadores e Sul-Americana.
O cenário é fedorento. A presunção impera, respaldada por ações políticas das mais diversas, e o mais antigo torneio de seleções do mundo perde praticamente todo seu brilho. Mas isto não interessa à Conmebol. O importante são os milhões de dólares.