Há um dilema ético na discussão atual sobre a criação de um Estado Palestino. Nada a ver com o mérito. Não há futuro possível sem a solução de dois Estados. Vivem na região cerca de 7 milhões de judeus e 4 milhões de árabes palestinos. Como nenhuma dessas populações vai embora, a convivência passa a ser um caminho inevitável. Mas, para que esse modelo prospere em uma perspectiva sustentável, suas bases devem ser construídas com o cimento da vida, do respeito e da democracia.
Por isso, é preciso resolver, antes, uma questão central. Não é aceitável que a defesa de um Estado Palestino esteja alicerçada nos ganhos políticos de uma ação terrorista.
No dia 7 de outubro de 2023, o Hamas invadiu Israel, assassinou 1,2 mil pessoas e sequestrou mais de 200. Matou crianças, violentou mulheres, incendiou casas e famílias. Por mais que não gostemos do governo Netanyahu e da resposta que ele vem dando, o fato motivador de tudo o que acontece hoje é a violência de um grupo terrorista que usa a barbárie e a mentira como armas.
Antes de falar em um Estado Palestino, três fatores deveriam ser colocados como pré-requisitos:
1) Libertação dos reféns mantidos pelo Hamas.
2) Reconhecimento, por todos os movimentos palestinos, do direito à existência de Israel.
3) Punição dos terroristas.
Não se trata de dar razão para A ou para B, mas sim da defesa de valores universais, sem os quais o mundo ingressaria em uma era de trevas e de dor. O Hamas, o Irã e seus aliados não querem um Estado Palestino. Seu objetivo, tantas vezes explicitado por eles mesmos, é destruir o único país democrático da região e, depois, converter o Oriente Médio e o mundo em uma ditadura religiosa. Só a ingenuidade, o preconceito ou a má-fé explicam a defesa genérica de um Estado Palestino sem determinar os valores básicos e os compromissos éticos e humanos que devem estar na gênese desse novo país.
Isso não impede medidas urgentes e necessárias, como a ajuda humanitária aos inocentes que sofrem com a guerra, dos dois lados da fronteira. A violência, no nível em que está posta hoje, terá como efeito o surgimento de mais uma geração educada pelo ódio e pela dor.
O que se vê, porém, é a demagogia egocêntrica e vaidosa de quem deveria construir pontes, mas busca apenas o aplauso fácil dos que querem acabar com o sintoma sem atacar a causa. E a causa é a incapacidade de aceitar a democracia, a liberdade e a diversidade como valores inegociáveis.