Todo final de tarde, o mesmo deputado ligava para o colunista de política José Barrionuevo. Eu começara poucos dias antes a trabalhar como assistente do Barrio, minha primeira função na RBS, e já tinha percebido o ritual que se repetia. Minha mesa ficava ao lado da dele. Notava a sua impaciência diante das longas observações e análises feitas pelo interlocutor. Mas o Barrio nunca foi grosseiro. Ouvia, sorria, tentava encurtar o assunto, mas raramente conseguia. O deputado, que ocupava uma posição importante, falava, falava e falava. Aquele era o horário do fechamento da edição, quando a redação de Zero Hora fervia. Não havia tempo a perder. Mas o maior colunista de política do RS perdia.
Passada uma semana da minha estreia na função, o Barrio me chamou e determinou: “Hoje quem vai atender ao deputado és tu. Anota tudo o que ele disser e me passa três notas”. Mesmo sem entender direito, obedeci. No outro dia, a coluna Página 10, de Zero Hora, estampava três grandes notícias sobre o parlamentar. Com destaque.
Quando cheguei à redação, o Barrio sorriu, satisfeito. “A partir de hoje, ele só vai querer falar contigo”. E realmente foi assim. No fim de tarde, tocou o telefone. A secretária anunciou: “ O deputado Fulano quer falar com o Tulio”.
O Barrio continuou publicando notas dele. E de mais um vereador e de um outro político que falavam demais. E eu feliz, me sentindo importante, porque, finalmente, tinha minhas próprias fontes, que ligavam para a redação e pediam para falar comigo.