Não existe sistema eleitoral perfeito. Por isso, qualquer discussão com o objetivo de melhora é necessária e bem-vinda. Há países do mundo que não adotaram a urna eletrônica justamente pela impossibilidade de materialização do voto. Mas até nisso é preciso ter cuidado. Votos não podem ser identificáveis, para a proteção da liberdade de escolha. Logo, um eleitor jamais encontrará a sua cédula específica, mesmo que ela seja de papel, o que sempre abrirá margem para mais e mais contestações, muitas vezes mal intencionadas, sobre lisura e transparência.
De fato, a transformação digital é algo novo e, por isso, permeada de desafios que envolvem segurança e credibilidade. Isso é uma coisa. Outra, é usar essas premissas legítimas para tumultuar o processo democrático. Confiar na desconfiança virou estratégia política.
É nítido que a bandeira do voto auditável vem sendo usada para justificar a contestação de uma eventual derrota em 2022. Assim, cria-se no país um ambiente de antagonismo em relação à Justiça Eleitoral, que cai na armadilha da radicalização. Não há, até hoje, qualquer indício ou mesmo denúncia consistente envolvendo fraudes com urnas eletrônicas. O que não impede o seu aperfeiçoamento.
É preciso ter cuidado, porém, para não ultrapassar um limite sem volta. Nas ruas, milhares de pessoas, muitas delas bem intencionadas, se manifestaram a favor do voto impresso. Tecnicamente, é praticamente impossível concretizá-lo até ano que vem. Adaptações em todo o sistema demandariam tempo e verbas inexistentes. Mesmo assim, discutir e analisar o assunto seria produtivo, desde que, em hipótese alguma, justifique viradas de mesa e ataques a uma das bases da democracia: a confiança nas instituições que lhe dão forma e suporte.