Se a CPI da Covid só pudesse ouvir uma pessoa, não há dúvida sobre quem seria: Jair Bolsonaro. Ele é o gestor principal do combate à pandemia. Sem o depoimento do presidente, qualquer tentativa de compreender o que aconteceu será incompleta.
Existe uma questão legal a ser enfrentada. Até que ponto o Congresso tem poder para convocar o chefe de um outro poder. Mas mesmo que Bolsonaro se negue a comparecer, ele deveria ser chamado. Talvez não como uma convocação, mas sim na forma de convite. Até para que a resposta – ou a falta dela – fique devidamente documentada.
Não acredito que Jair Bolsonaro se disponha a comparecer diante dos senadores. Mas seria uma oportunidade de ouro para explicar e esclarecer seus pontos de vista e suas decisões, que ele e seus apoiadores insistem em qualificar como corretas. E se assim são, não haveria motivos para evitar até mesmo um enfrentamento com os inquisidores, muitos deles assumidamente hostis ao governo.
Não é aceitável que um inquérito sobre a gestão da covid-19 no Brasil não tente ouvir o líder maior do processo. Se Jair Bolsonaro nada tem a esconder, seria um golaço ir até o Congresso e detonar, com a cara e a coragem, todas essas injustiças que seus apoiadores não cansam de rebater em monólogos nas redes sociais.