Sebastião Melo celebrou, nas redes sociais, a chegada da primeira cafeteria Starbucks à Capital. Comemorou o trabalho conjunto para “transformar Porto Alegre”. A publicação do prefeito foi aplaudida por alguns, mas criticada por empreendedores locais que sofrem com a pandemia e por aqueles que consideram tanto entusiasmo um sinal de submissão a um modelo econômico ultrapassado.
A Starbucks foi fundada em 1971, em Seattle, estado de Washington. Mas foi graças a Howard Schultz, que entrou na empresa em 1984 e virou seu presidente até 2017, que ela se transformou no que é. Schultz conta, em um dos seus livros, como mandou suspender a oferta de um lucrativo sanduíche de queijo derretido em toda a rede porque a preparação interferia no aroma do café, pelo qual havia se apaixonado na Itália. Ou seja: perdeu dinheiro no curto em nome do respeito à essência do negócio.
Ouvi uma palestra de Schultz em Nova York, em 2017, quando eu morava na Filadélfia, a uma hora e meia de ônibus de Manhattan. Era um evento com alguns dos maiores CEOs dos Estados Unidos, que fui cobrir como jornalista do Grupo RBS. Abaixo, as anotações que fiz da fala de Schultz. Na época, ele era lembrado para concorrer à Presidência dos EUA pelo partido Democrata:
“Howard Schultz – Starbucks. Um bilionário com patrimônio avaliado em US$ 2,8 bilhões (hoje já são US$ 4 bilhões) que é contra o corte de impostos. Tem argumentos sólidos. O primeiro é o déficit federal trilionário. O segundo, é a certeza de que as grandes corporações não reinvestirão o dinheiro poupado dos impostos no bem estar de seus colaboradores, em programas sociais ou de incentivo à economia . Para ele, a medida só concentrará mais renda nas mãos dos que já têm muito. 'Precisamos de uma sociedade com mais compaixão e essa proposta (baixar impostos) não ajuda'. Perguntado se vai concorrer a presidente dos EUA, disse que não pensa nisso agora."
Seu nome ganhou destaque pelas políticas internas da Starbucks – mais de 3 mil lojas. A empresa é famosa pelos benefícios que dá aos seus colaboradores – planos de saúde e ajuda para pagar os estudos. Schultz acredita que os empresários têm a obrigação moral de opinar sobre os grandes temas do país.
— Vivemos numa época de mentiras e precisamos elevar o nível do nosso debate — afirma.
Repito: as anotações foram feitas em 2017. Quatro anos depois, é fácil concluir que dificilmente Sebastião Melo e Howard Schultz concordariam em temas como gestão pública e conceito de evolução econômica, especialmente do que diz respeito a impostos. Mas isso não os impediria de tomar um expresso juntos em uma das tantas boas cafeterias já existentes em Porto Alegre, as quais a Starbucks vem se somar, meio século depois da sua fundação.