— O pessoal tem um pouco de dificuldade de me enquadrar — se diverte Leonel Radde, 40 anos. Não é para menos. Seu currículo mescla vivências aparentemente incomunicáveis: policial da Divisão de Homicídios, defensor da descriminalização da maconha e o papel de príncipe em uma montagem de Cinderela.
Filho do dramaturgo e diretor Ronald Radde, Leonel se elegeu vereador em Porto Alegre pelo PT no ano passado, com 5.611 votos. Na Câmara Municipal, entre outras bandeiras, tem investido no aprofundamento do debate sobre o uso da cannabis para a fabricação de remédios. Para isso, entende que tanto o plantio quanto a comercialização devam ser democratizados.
— Como policial de homicídios, vi os efeitos que o tráfico tem sobre o crime e sobre a população — afirma o parlamentar petista, que tem sua maior base eleitoral na Cidade Baixa e no Centro da Capital.
Budista, Leonel garante que não usa drogas ilegais e nem é fã de álcool.
— Hoje, os remédios à base de cannabis são inacessíveis para muita gente pelo preço alto em função das restrições legais à produção de matéria prima — avalia. Formado em Direito e em História, argumenta que o modelo do crime organizado no Brasil foi inspirado nos EUA.
— Lá, eles já estão mudando as leis porque viram que não funcionam — analisa.
Nos palcos, o ator Leonel interpretou também o leão do Mágico Oz e o criado de Rapunzel. No mundo real, o parlamentar Leonel promoverá, no próximo dia 20, um debate sobre cannabis com um neurologista, advogados e familiares de pessoas que dependem de remédios feitos com derivados da planta. Sabe que não terá somente aplausos, mas acredita em um final feliz.