Posições ideológicas extremas fazem parte da democracia. De certa forma, balizam os limites dos debates sobre os grandes temas. Em uma situação de normalidade, o radicalismo é minoritário, controlado e estático. Não no Brasil de hoje.
O maior problema dessa polarização não é a eventual defesa de teses estapafúrdias ou sem amparo legal, o que é garantido pela liberdade de expressão. Alguém pode, por exemplo, defender a adoção da pena de morte. Mas não pode matar em nome de uma suposta Justiça. O maior problema da polarização brasileira é o como ela vê o outro lado. O espaço para diálogo, hoje, é estreito. E fica cada vez mais. Assim, quem está no outro polo - ou é colocado lá indevidamente - precisa ser destruído, aniquilado, não possui legitimidade e não deveria ter voz. Essa dinâmica só existe porque tem dois lados e porque ambos têm absoluta convicção de que radical é o outro. É curioso e paradoxal, mas o radical justifica seu radicalismo – que nunca chama assim – pela posição do inimigo, que, por sua vez, não existe sem um outro inimigo.
A indignação é o combustível que alimenta esse jogo. Ela não é obra do acaso, mas sim uma estratégia em forma de armadilha, reproduzida e amplificada por ambos os rebanhos nas redes sociais e nos grupos de WhatsApp. Leia o post, abra a mensagem, veja o vídeo enviado pelo amigo raivoso. A turbine a sua indignação, da hora em que acorda ao momento em que fecha os olhos. Quem ganha com isso? Ora, não vou subestimar a sua inteligência, caro leitor.