Em entrevista à Rádio Gaúcha, o secretário-chefe da Casa Civil, Artur Lemos, afirmou que, nas mudanças no modelo de distanciamento para combater a pandemia, a interpretação do governo foi “técnica, não política”. Nada mais político do que essa declaração, que tem o objetivo político de acalmar politicamente os descontentes.
É incrível como os agentes políticos são os primeiros a desacreditar a política. Depois, nas campanhas políticas, reclamam, politicamente, do desgaste da política.
Tomar uma decisão técnica sem levar em conta os aspectos políticos é um erro, tão grave quanto só levar em conta fatores políticos e não técnicos. Até porque, em casos complexos e com muitas zonas de sombra, como é o caso da pandemia, os números técnicos podem ser usados para justificar decisões políticas absolutamente opostos.
Dizer que não é política a decisão de levar bandeira vermelha até a pandemia, já que a pandemia não foi até a bandeira vermelha, é subestimar a nossa capacidade de compreensão política. Decisões políticas, por si só, não são boas nem ruins. O governo de Israel decidiu, politicamente, no ano passado, investir em vacinas. O brasileiro, politicamente, decidiu não investir.
Essa política de negar o viés político de decisões políticas é uma dessas políticas que só fazem mal à política, com o perdão das necessárias 21 redundâncias.