É absurdo o que aconteceu em Porto Alegre depois de Inter e Grêmio deixarem escapar as vitórias na última rodada. Esperei passar a final da Copa do Brasil para escrever esse texto. Não queria parecer um colorado magoado. Até estava, mas não é isso que me move nesse momento.
O que se viu e ouviu na Capital dos gaúchos depois de Flamengo e Palmeiras se sagrarem campeões é triste: carros buzinando nas ruas, foguetório e gritos de vizinhos debochando e agredindo uns aos outros. Gremistas alegres com a derrota do Inter. Colorados felizes com o fracasso do Grêmio. Até aí tudo bem, não sejamos cínicos. Mas o que me choca é a expressão pública desse sentimento, da forma como foi feita por alguns. Não foram poucos.
Entendo que a flauta corra solta nos grupos de amigos e de familiares, onde as regras são claras e as brincadeiras dirigidas a quem quer brincar. Mas festejar publicamente, aos berros? É muito espírito de porco. Ainda mais em um momento em que nossas UTIs estão lotadas. É a falta de empatia levada ao seu extremo de desumanidade.
Fico imaginando uma criança, colorada ou gremista, já deprimida pelo momento, socada em casa pela pandemia, e que teve no sonho de título do seu clube mais uma esperança frustrada. Como ela se sentiu ao ouvir a algazarra sádica depois da derrota?
Sinto vergonha e desprezo pelos colorados e gremistas que protagonizaram esse fiasco público. Que seria deprimente em tempos normais, mas assume ares de monstruosidade no momento em que vivemos.