O jornalista Caio Cigana colabora com o colunista Tulio Milman, titular deste espaço
Uma pesquisa sobre o estado mental dos profissionais da saúde na pandemia, parte do projeto de doutorado da psiquiatra Carolina Moser, mostra o grau do esgotamento de quem vive o dia a dia dos hospitais. O trabalho foi feito em duas etapas, com dados coletados em maio e novembro de 2020, com questionários respondidos principalmente por médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem.
Entre os participantes, 36,7% apresentaram, em novembro, sintomas da síndrome de burnout, caracterizada pelo sentimento de exaustão, tensão emocional e estresse no ambiente de trabalho. Em maio, o percentual era de 28,6%. A pesquisa, que avaliou cerca de mil profissionais de todo o Brasil, ainda tem parte dos dados da segunda fase sob análise. Mas algumas constatações já chamam atenção.
Uma delas é o esgotamento maior dos técnicos de enfermagem em comparação com enfermeiros e médicos. Na primeira fase do trabalho, 40,3% dos técnicos de enfermagem apresentaram sinais de burnout, ante 32% dos enfermeiros e 25,8% dos médicos. Também foi a categoria que mais demonstrou sintomas de depressão na primeira fase: 68,7%. No caso dos médicos foi de 42,9% e dos enfermeiros, 55,9%.
Na segunda etapa da pesquisa, a categoria dos técnicos de enfermagem seguiu como a que mais apresentou sintomas de depressão: 62,3%. Entre os médicos foram 35,1% e nos enfermeiros, 58,1%.
– Parece que os técnicos de enfermagem têm menos acesso a tratamento e talvez não existam intervenções voltadas para eles. Embora estejam na linha de frente do cuidado dos pacientes, alguns profissionais desta categoria relatam sentirem-se invisíveis – avalia a orientadora do projeto, a psiquiatra Simone Hauck, professora da Faculdade de Medicina da UFRGS e do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Tanto os sintomas de burnout quanto os de depressão estão mais presentes nos profissionais que estão na linha de frente do combate à covid-19 e também entre aqueles que são do grupo de risco da doença.