O jornalista Caio Cigana colabora com o colunista Tulio Milman, titular deste espaço
Antes de pensar em tornar compulsória a presença de estudantes nas salas de aula, como cogita o Piratini, é preciso garantir a volta com segurança para alunos, professores, funcionários das escolas e pais. E isso passa por dar confiança para o retorno. Em outubro do ano passado, meses de planejamento para reabrir as portas das instituições estaduais não foram suficientes. Apenas parte dos equipamentos de proteção individual (EPIs), produtos de limpeza e desinfecção adquiridos foram entregues a tempo. O resultado foi mais insegurança, apesar das medidas de distanciamento e rodízio nas classes.
Procurada pela coluna, a Secretaria Estadual da Educação assegurou que, agora, todos os materiais foram “devidamente entregues para as 2.467 escolas da rede”. Foram gastos R$ 15,3 milhões e, segundo a secretaria, há planejamento para a reposição. O Cpers, no entanto, tem outra versão. Afirma que há relatos de escolas sem a totalidade dos EPIs esperados ou em quantidade insuficiente.
Em grande parte do mundo, as escolas vêm sendo consideradas um serviço essencial e há um grande esforço para mantê-las abertas. No Brasil, o longo período principalmente com a rede pública fechada e as dificuldades das aulas virtuais para crianças e jovens de famílias mais carentes tornam este problema uma ameaça capaz de condenar uma geração ao subemprego, elevando a já alta desigualdade social do país. Em muitos casos, escola aberta significa ter acesso a refeição e não estar exposto a outros perigos.
Mas não será possível esperar a vacinação em massa. Por outro lado, estudos mostram que crianças representam baixo risco de transmissão da covid-19. São argumentos utilizados, por exemplo, pelo Todos pela Educação, talvez a principal organização da sociedade civil voltada à defesa da qualidade do ensino básico no país. Sim, pessoas do grupo de risco devem permanecer em casa, se necessário. Mas, como já alertou a ONU, vive-se o risco de uma tragédia geracional. As escolas públicas têm de avançar, gradualmente, na reabertura. Mas, muito mais do que por obrigação, pelo convencimento, mostrando que o planejado em detalhes foi executado à risca.