Manuela D’Ávila não queria falar sobre um eventual futuro governo. “Não sento na cadeira sem vencer”, disse a interlocutores. Mas ela pensava no assunto. Seu maior desafio seria o de garantir equilíbrio de forças no secretariado, mesclando nomes indicados pelas siglas com perfis mais técnicos em áreas estratégicas. Pelo menos um dos partidos que a apoiou no segundo turno não aceitaria cargos no governo: o PSOL, que nasceu de uma dissidência do PT de Miguel Rossetto, vice de Manuela. Em 2004, a ala mais à esquerda do partido de Lula se rebelou com as composições políticas do seu maior líder, que se aliou a figuras da velha política de Brasília. Por isso, houve a ruptura. Também há diferenças com o PCdoB, que não impediram o apoio ao projeto de esquerda em Porto Alegre, mas seriam um empecilho para a participação direta na gestão.
Já o PDT entraria na conversa. O apoio à Manuela foi “incondicional”, mas eventuais indicações iriam dialogar com a esfera municipal da administração, com preferência para a indicação de vereadores como secretários. A Educação era a área pretendida pelo partido fundado por Leonel Brizola. Sua neta Juliana Brizola, deputada estadual, dificilmente deixaria a Assembleia por um espaço de menor visibilidade.
O PT ocuparia funções relevantes, mas sempre buscando um limite seguro para que a sigla, mais organizada e com mais quadros, não engolisse as demais. Miguel Rossetto foi “o melhor parceiro de trabalho que eu poderia ter”, disse Manuela, indicando que pretenderia contar com o vice para alguma missão importante.
No campo político, sem maioria na Câmara Municipal, Manuela precisaria de muita energia e articulação para implementar a sua visão de maior relevância do poder público na vida da cidade. Se vencesse, Manuela seria a grande estrela da esquerda brasileira e, por isso, teria grande visibilidade nacional e apoio de quadros de fora do Estado. Mas como diz o ex-colunista de Zero Hora José Barrionuevo, “não existe eleição majoritária perdida, desde que o candidato caia de pé”. A visibilidade conquistada na campanha é um ativo que tem vida longa.