A comoção provocada pela morte de Maradona abre a oportunidade, mais uma vez, de falar sobre a relação da biografia do artista com a sua obra. Tanto na cultura erudita quanto na mais popular das manifestações, existe um traço em comum: a abundância de gênios e de ídolos com vidas pessoais destroçadas pelo álcool, pelas drogas, por relações conturbadas e, muitas vezes, violentas. A lista de pintores, cantores, atores, músicos e poetas é tão extensa que nem vale a pena me aprofundar nela.
Assim que Maradona morreu, a questão emergiu: é legítimo idolatrar um homem que, fora do campo – ou do palco – abusou tanto das drogas, teve posições políticas marcantes, fez um gol ilegal com a mão e se meteu em tantas confusões? Minha resposta é sim, mesmo que, no caso de Maradona, o fato de ele ter sido um atleta dá outra dimensão, ainda mais dramática, à sua dependência química. Se a vida fora dos holofotes dos ídolos impedisse a celebração da sua obra, não ouviríamos boa parte das músicas que ouvimos, não leríamos alguns dos melhores livros já escritos e não nos emocionaríamos com uma fatia gigantesca dos mais belos quadros já pintados.
A arte é maior que o artista. Quem gosta de futebol entende. Para quem não gosta, nem adianta tentar explicar.