A pretensão do governo Bolsonaro de condicionar a atuação de ONGs na Amazônia aos "interesses nacionais" me fez lembrar, novamente, de José Lutzenberger, pioneiro do movimento ecológico no Brasil. Gaúcho de Porto Alegre, começou a falar na preservação do meio ambiente em uma época em que a natureza era vista, muitas vezes, como uma inimiga a ser vencida.
Uma vez, foi perguntado sobre os riscos que o interesse de outros países pela floresta tropical poderia representar ao Brasil. Sua resposta foi corajosa e magistral: "Se a casa do vizinho está pegando fogo, esse não é um problema só do vizinho, porque a fumaça e as chamas podem se alastram para a minha casa também". A Amazônia é brasileira, mas esse controle só será legítimo quando compreendermos que ela interessa ao mundo tudo e, por isso, sua preservação sustentável é uma missão que ultrapassa as suas fronteiras políticas.
Por isso, a iniciativa do governo Bolsonaro precisa ser melhor explicada. Se a defesa dos "interesses nacionais" significa expulsar da Amazônia organizações de fachada que fazem biopirataria ou proselitismo religioso indevido com as populações indígenas, aplausos para a medida. Se é apenas para sufocar a pressão por mais cuidados com a floresta, aí teremos uma problema que atenta não apenas contra os "interesses nacionais", mas contra os interesses de todo planeta.